Mais uma vez, o Brasil se vê frente a frente com um problema envolvendonossos vizinhos sul-americanos. Depois das querelas e dos prejuízoscausados pela Bolívia à Petrobras, e os arrufos e fanfarronices do HugoChávez da Venezuela, nem bem eleito o ex-bispo católico Fernando Lugo,novo presidente do Paraguai, já começa a querer renegociar o que foipactuado e assinado com Itaipu.

Este contrato havido entre o Paraguai e o Brasil tem um prazo até 2023para ser renegociado. E o mandatário paraguaio já quer, num ato pra láde populista, “roer a corda” e impor novas regras. Segundo suaalegação, em função de hoje o dólar estar meio desvalorizado, oParaguai está tendo um grande prejuízo. Pergunto: Por que quando estamesma moeda estava valendo pelo menos o dobro do que hoje ninguém semanifestou a favor ou contra uma mudança no contrato? O Paraguai pormotivos óbvios ficou calado e o Brasil honrando o contrato, ficou noprejuízo. Agora que a situação é outra começam a choradeira e asacusações contra o “imperialismo” brasileiro.

Itaipu é hoje responsável por 19% da energia consumida no Brasil e 91%do consumo paraguaio. Mas praticamente todo o investimento na obraficou a cargo de nosso país e o investimento dos nossos vizinhos seriapago em 40 anos, com a venda da energia aos brasileiros. Será que paraa revisão desse contrato os valores investidos não deverão seratualizados também? E o Paraguai, o que fará com os 50% da energia aque tem direito se não tem como consumi-la?

Acho os nossos vizinhos um povo muito simpático, já cheguei a escreverum artigo, pelo qual até fui criticada ao defendê-los na questão daguerra do Paraguai, mas, como dizia minha avó, o que é tratado não écaro e contratos têm de ser respeitados, não se mudando as regras dojogo durante a partida. Só espero que o nosso maior governante, visandoo seu sonho de liderança na América Latina, não ceda a mais estereclamo do vizinho fazendo cortesia com o chapéu alheio. Pois, se istovier a acontecer o pobre e endividado do consumidor brasileiro é quemdeverá, mais uma vez, pagar a conta e, desta vez, será a de luz.

Sylvia Romano é advogada trabalhista,responsável pelo Sylvia Romano Consultores Associados, em São Paulo.E-mail: [email protected]