Uma viagem ao Peru oferece itinerários de mar, deserto, cidades históricas. Do barroco de Lima, capital, à ilha Ballestas com suas focas e pinguins. Das descobertas arqueológicas, das pirâmides  gigantescas ao longo do Pacífico aos tesouros de manufaturados preciosos e jóias únicas.

No Peru, as paredes falam. Paredes de palácios barrocos restaurados, paredes arqueológicas, como as de Sipan. Cuzco renova o fausto dos Incas, antigos senhores dos Andes nos hotéis de luxo, Lima redescobre suas belezas coloniais, a península de Paracas continua sendo o paraíso de leões marinhos e dos pinguins de Humboldt e  o alto da Cordilheira dos Andes se mantém como as montanhas mais bonitas do mundo.

LIMA
Com a contribuição do locais, Lima restaurou seus balcões espanhóis, de inspiração árabe e andaluza, com o apoio da campanha Adote um balcão. Assim, permanecem até hoje as fachadas barrocas de 169 casonas, construções coloniais que transformaram Lima em uma das fascinantes cidades de arte da América do Sul. Ciudad de los Reyes, fundada no Pacífico por Francisco Pizarro em janeiro de 1535.

Basta andar pela praça das Armas e admirar o delírio da decoração da Catedral e do Palácio del Gobierno para entrar diretamente na história. Por ali também fez fama El Maurito, onde foi inventado o Pisco Sour, coquetel nacional. Logo adiante é preciso ver os entalhes do balcão mais bonito da capital, na fachada do Palacio de Torre Tagle, sede do Ministério do Exterior.

ILHAS BALLESTAS
É da capital que parte o risco cinzento do asfalto da Panamericana para o sul, distante 248 quilômetros até Pisco, para chegar até o azul da Bahia de Paracas. Através das ondas do Pacífico aparecem as Islas Ballestas, o Galápagos do Peru. Lugar que merece uns dias de estada, para descobrir parte dos mistérios arqueológicos da região. É lá que fica El Candelabro, gigantesco desenho de 150 metros, feito na areia.

O primeiro mistério: para uns parece um candelabro, para outros é um cacto ou a árvore da vida. Há os que usam a fantasia e afirmam ser uma pista de aterrissagem para extraterrestres. A verdade é que os esotéricos chegam de todos os cantos do mundo para cumprir seus rituais à luz da lua cheia. Por lá ficam leões marinhos, pinguins.

Voltando à terra firme, outro mistério: dois quilômetros depois da entrada da Reserva Nacional, visita ao Museu J.C. Tello, dedicado à civilização Paracas, mais antiga do que a dos Incas. Até hoje ninguém explicou o segredo arqueológico, aonde vivia o povo que, a partir do século VII antes de Cristo, enterrava seus mortos na areia. As múmias dos sepulcros subterrâneos, em posição fetal, eram envoltas em tecidos elegantes, considerados os mais bonitos do antigo Peru. Os achados mais significativos são os do Museu Regional de Ica, distante 70 quilômetros. No acervo, 13 mil peças. Mais distante ainda, 35 quilômetros, há um hotel e uma histórica fazenda vinícola, ainda em atividade.

CIVILIZAÇÃO NA COSTA
A partir de Lima, em menos de uma hora é possível chegar até Trujillo, cidade colonial.

A Praça de Armas é a sala de visitas, com bancos debaixo de árvores que dão sombra e em torno as casas coloridas, construídas nos séculos 17 e 18, com suas varandas de madeira trabalhada e portais imponentes. É lá que se compram os santos de estilo barroco, um destaque do artesanato local.

Trujillo é o centro de duas civilizações pré-incaicas, das quais restaram vestígios no vizinho vale do Rio Moche. Que leva o nome de  um povo guerreiro, cujo poder durou do I ao IX século depois de Cristo. A Huaca del Sol é uma pirâmide de 45 metros, a mais alta do mundo feita em adobe, tão grande quase quanto as pirâmides de pedras do Egito. Restaurações salvaram parte dos 6 mil metros quadrados de pinturas murais coloridas e estuques, que cobriam a construção.

Chan Chan é a capital, distante 5 quilômetros de Trujillo. Ao pôr do sol se incendeia com os raios que ficam refletidos nas águas do vizinho oceano. É o melhor momento para visitar a cidade labiríntica, feita inteiramente de adobe. No centro, a praça da Cerimônia, toda decorada com baixo relevo. Os detalhes provam que o povo era formado pelos melhores criadores de cerâmica de todos os tempos.

HUANCHACO
Uma cidadezinha com restaurantes de peixes ao longo das águas, distante 10 quilômetros da cidade. Nas poças de água salobra cresce a totora, uma espécie de cana palustre que é deixada secar para ser trançada, na construção dos caballitos, embarcações típicas, nas quais os pescadores enfrentam o mar.

LAGO TITICACA
Com seus 8 mil quilômetros quadrados, a 3.856 metros de altitude, o Lago Titicaca é centro do uros, que vivem em plataformas flutuantes, feitas com a espécie de junco, que cresce às margens do lago.

CHICLAYO
Continuando na Panamericana mais 208 quilômetros, o destino é Chiclayo, nas proximidades um tesouro: sepulturas descobertas em 1987, entre as quais a do famoso Señor de Sipán, sacerdote guerreiro, considerada como a do Tutankhamon peruano, por causa dos tesouros que faziam parte do túmulo. Foi a maior descoberta arqueológica em meio século no Perú.

COMPRAS
O Peru é o lugar perfeito para comprar artigos de alpaca. Os mais caros são os de baby alpaca. Outra boa compra são as peças em prata, jóias trabalhadas à mão, jarras, travessas e objetos de decoração no metal precioso. Também chamam a atenção as peças expostas nos antiquários.

CORDILHEIRA BRANCA
Uma cadeia majestosa com 75 picos entre 5.700 metros e o Huascarán, com 6.768 metros, sonho de todos os alpinistas, espera pelos turistas cheios de adrenalina. Huaraz é a porta de entrada do espetacular cume da Cordilheira Branca. Para os adeptos das escaladas, o mito do Perú não é o ouro e a prata, nem as cidades perdidas dos Incas, mas as elevadas montanhas do hemisfério austral. O Huascarán, com seus 6.768 metros, é a montanha mais alta do Peru.

Mas aventura não se resume em escalar picos nevados. Quem fica com os pés no chão pode descobrir belezas até em passeios a cavalo. Em Huaraz, 410 quilômetros de Lima, há de tudo o que é necessário para uma excursão e para verdadeiras expedições: acessórios, guia, arrieros (que conduzem as mulas), mulas, comida, cozinheiros, carregadores.

Um destaque da cidade é o Mercado Central, colorido e barulhento, um festival de verduras e frutas , mulheres índias com seus trajes típicos de várias saias sobrepostas ( algumas chegam a vestir nove de uma vez) e ricamente bordadas. É no mercado que o turista encontra luvas, gorros e cachecóis tricotados em lã de alpaca.

Os que se aventuram a subir a montanha, encontram uma exótica planta rasteira, que cresce a 4 mil metros de altitude.

O Parque Nacional de Huascarán, Patrimônio da Humanidade desde 1975, protege o ecossistema da Cordilheira que atinge 3.500 metros e abrange 3.400 quilômetros de área.

CAMINHO DOS INCAS
O Eldorado existe, palavra de jesuíta. É o que se lê no documento de fins do século XVI, início do XVII, do arquivo romano da Companhia de Jesus: Um reino a dez dias de jornada do Peru, chamado Paytiti, muito rico e decorado com ouro. O testemunho é importante, porque revela como os missionários encontraram a legendária cidade do ouro, Paititi, na língua  quechua. Como os jesuítas não deixavam nada ao acaso, estudiosos ainda procuram mapas e descrições mais precisas.

Enquanto uns procuram o sonho da fortuna dourada, outros seguem  para Cuzco e sua igreja barroca, brilhando no ouro. E também para a vizinha Machu Picchu, hoje o lugar mais famoso, que ficou esquecido tanto tempo. Mais de um século depois de sua redescoberta, ninguém ainda chegou à conclusão se era uma cidade, um centro militar ou lugar religioso. Segundo a lenda inca, Cuzco foi fundada pelo rei Manco Capac e sua irmã Mama Ocilo, com o bastão de ouro doado pelo deus Sol, que deveria ser enterrado.  No ponto onde o bastão penetrasse mais fundo no terreno, deveria ser construída uma cidade de fábula, com muralhas, afrescos decorados com ouro e prata, para ser a capital de um reino poderoso. De fato, o rei construiu uma cidade assim, até que, em 15 de novembro de 1533, Francisco Pizarro e seus aventureiros espanhóis demoliram templos, roubaram o ouro e com as pedras imensas, construíram igrejas barrocas, monastérios e palácios Cuzco, antiga capital do Império, também é exemplo da sólida arquitetura inca, ainda hoje uma das mais importantes cidades do país.

Cuzco é o maior centro turístico do Peru, cidade Patrimônio da Humanidade,  encruzilhada da cultura incaica e colonial, a 3.326 metros de altitude, no vale de Huatanay. A Plaza de Armas, repete a piazza del Campidoglio de Roma ou a San Marco de Veneza, com palácios, a igreja El Triunfo, a Compañia, a Universidade, tudo o que comemorou a ferocidade dos espanhóis, que impuseram o verbo e Cristo com espadas e espingardas.

Mais tarde surgiu a Escola Cuzqueña com pinturas que misturam civilizações e personagens com pés iguais às mãos e quadros com símbolos incaicos. Foi a vingança dos índios. Na Última Ceia da catedral, na mesa aparece a chicha morada ( cerveja de milho) e cuy ( porquinho da Índia assado), ao invés de vinho e carneiro.

MACHU PICCHU
Do Equador ao  Chile, era a abrangência do Império Inca. Um território de 5 mil quilômetros de extensão, uma população de 15 milhões de habitantes, algo em torno de 60% do que é a atual população do Peru. Marcada pela grandiosidade, a civilização inca tem como exemplo da cidade sagrada de Machu Pichu.

Arqueólogos comprovaram os avançados estudos dos incas nos campos da engenharia e astronomia, além de práticas de medicina, aquedutos, irrigação, técnicas agrícolas.

A 2.400 metros de altitude, Machu  Picchu tinha mais de 400 sacerdotes e sacerdotizas dedicados à astronomia e à religião. A cidade é dividida em região agrícola e urbana. Arquitetura e a engenharia são marcadas pela precisão de cálculos e a resistência das edificações, praticamente intactas até hoje.

O DEUS SOL
O dia mais festivo e importante é o 24 de junho, o Inti Raymi, solene festa do Sol. Durante uma semana é revivida a cerimônia sagrada dos incas, repetindo ritos antigos no campo verde da fortaleza de Sacsayhuamán, a maior obra em pedras do Peru. Fica a poucos quilômetros de Cuzco. As pedras da fortaleza também foram usadas pelos espanhóis para suas construções. Ela tinha três bastiões com 360 metros de comprimento, colocados em zigzag com 22 ângulos  cada um.

É de Cuzco que sai o trem serpenteando até Aguas Calientes. Depois é tomar o ônibus que sobe até os 2.350 metros até Machu Picchu. A cidadela é o ponto de chegada de quem faz a Trilha do Inca, quarenta quilômetros percorridos em 3 ou 4 dias, seguindo o traçado feito pelos índios.

Quem pretender prolongar a magia da visão de Machu Picchu, pode se hospedar no Sanctuary Lodge, único lugar junto às ruínas. Lugar que foi descoberto em 24 de julho de 1911 por Hiram Bingham, arqueólogo explorador americano. Hoje apenas 40% do que existe por lá é autêntico, depois das renovações tipo Disney levadas a efeito por equipes americanas.

NÚMEROS QUE EXPLICAM UM PAÍS

  • Machu Picchu, durante o período incaico, teria 1.200 habitantes
  • O trono do Imperador Inca pesava 80 quilos em ouro e acabou como troféu pessoal de Pizarro
  • Foram apenas 260 os soldados de Pizarro que conquistaram o Império Inca
  • Hoje são mais de  80 mil pessoas que percorrerm o Camino de los Incastodos os anos. Há um quarto de século, eram apenas 6 mil
  • As linhas de Nazca têm 30 centímetros de profundidade média
  • 15% da população local morreu de tuberculose nos primeiros 50 anos de domínio espanhol
  • 50% da população peruana, aproximadamente, vive em pobreza
  • 8.700 quilômetros formam a rede fluvial navegável
  • Mais de 9.000 quilômetros de estadas são asfaltadas
  • 19% do total mundial de espécies de pássaros são, e estão, no Peru
  •  No último quarto de século foram descobertas mais de 25 espécies de pássaros