O projeto Circuito Sesc de Artes, que começou a ter seu conceito desenvolvido em 1998, amplia a proposta de levar cultura a cidades órfãs de Sesc fazendo uso de uma logística de guerra a partir do próximo dia 25. Com o subtítulo Conectando Lugares, o circuito vai levar shows gratuitos para cidades de interior, litoral e Grande São Paulo até 11 de maio. Caravanas de ônibus vão seguir 12 roteiros diferentes. Sindicatos de comércio locais e prefeituras, juntos ao Sesc, acertarão a infraestrutura de apresentações que serão sempre em praças públicas.

De 2012 para cá, o crescimento da maior investida cultural da entidade ficou visível: as 66 cidades visitadas viraram 102. A programação musical conta com Emicida, Mundo Livre S/A, BNegão & Seletores de Frequência, Pedro Luís, Karina Buhr (cantando Secos & Molhados), Cidadão Instigado (tocando Pink Floyd) e Hermeto Pascoal. A operação apresenta números superlativos. Ao todo são 18 unidades mobilizadas para uma programação itinerante de 591 apresentações. Somando música às áreas de teatro, artes visuais, circo, dança, literatura, arte-mídia, artes visuais e cinema, chega-se a 66 trabalhos de 370 artistas. Ou 510 horas de programação.

Danilo Santos Miranda, diretor regional do Sesc-São Paulo, chama a investida de “varredura cultural”. Ele diz sentir carência de cultura em cidades menores. “Cultura em alguns lugares é raro, é difícil, é tudo muito igual, baseado naquilo que já está estabelecido, feito para agradar a todos em um final de semana. É quase tudo massificado. Por isso é importante levarmos uma marca de qualidade. Nossa tentativa é sempre encantar e provocar, o que eu considero as duas máximas da arte.”

Hermeto Pascoal vai sair em uma das caravanas. Sua turnê começa em São Roque, na sexta, dia 25 de abril. E segue para Itu no sábado, Praça da Independência; e Votorantim no domingo. Vai de time completo, fazendo todo o percurso de ônibus aos 77 anos. “Fazemos muito isso na Europa, mas aqui no Brasil são poucas iniciativas. Vou porque vale a pena, é pela qualidade da música.” Hermeto fala dos “ouvidos virgens”, do público não iniciado que pode encontrar em praças públicas, em tese, com mais facilidade do que nos teatros. “Quanto menos acostumados com minha música, melhor. Para dizer a verdade, até me interesso mais por esta plateia que é capaz de se surpreender mais com o que ouve.” Ele define o que faz de “música universal” e a compara a uma “banca de frutas”. “Você pode escolher a sua, tem de tudo. No meio, aparecem outras coisas, um pinico, um sabonete, mas sempre será uma banca de frutas.”

Em outra frente, BNegão segue com os Seletores de Frequência para cobrir uma área maior. Vai fazer shows em São Bernardo do Campo, Casa Branca, Mococa, São João da Boa Vista, Poá e Suzano. No caminho, faz ainda uma parada no Sesc Santos. “Sei que a galera de São Bernardo está sempre presente em nossos shows. Nas outras cidades, não sei muito o que esperar, mas posso dizer que vamos fazer o bicho pegar.” Negão aproveita para anunciar alguns dos muitos projetos que tem para este ano, quando pretende trabalhar com mais cuidado o lançamento do disco Sintoniza Lá, de 2012. “Estamos fazendo um disco instrumental com os Seletores e vamos relançar o Enxugando Gelo (de 2003) em CD primeiro e, depois, vinil.”

Danilo diz que tem como desafio pessoal inaugurar unidades do Sesc em todas as cidades de São Paulo com média de 100 mil habitantes. “Temos ainda um déficit de unidades na Grande São Paulo. Quero chegar mais à zona leste e à zona oeste da cidade, apesar de já estar em Itaquera e no Belenzinho.” Uma discussão recorrente sobretudo entre o público do Sesc e os músicos: esta entidade privada não faz aquilo que os governos deveriam fazer por suas cidades? “Eu estava agora há pouco em Bogotá para um festival de teatro e as pessoas de lá me perguntavam se o Sesc era um tipo de ministério da Cultura. Acabamos tendo mesmo um objetivo de caráter público.” E segue a questão que sempre retorna quando o próprio levanta a bola. Danilo Santos Miranda é uma possibilidade para ocupar o Ministério da Cultura? “Eu já me interessei mais por isso, mas estou cada vez mais distante. O mundo político não me atrai. O mundo das composições, dos acertos. Um mundo no qual o que importa é a conquista e a manutenção do poder.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.