Por Samy Adghirni

TEERÃ, IRÃ, SÃO PAULO, SP, 17 de abril (Folhapress) – Um assassino condenado à morte por enforcamento em praça pública no Irã foi perdoado pela mãe da vítima quando a corda já havia sido amarrada a seu pescoço, segundo a mídia local.

A mãe concedeu o perdão depois de dar uma bofetada na cara do assassino.

A cena ocorreu diante de uma multidão de curiosos ao amanhecer da última terça-feira na cidade de Nowshahr, no litoral do mar Cáspio, norte do Irã.

O culpado, identificado como Balal Abdullah, estava com os olhos vendados e as mãos amarradas quando foi içado em cima de uma cadeira por policiais, que colocaram uma corda em seu pescoço. A cadeira deveria ser removida em seguida, de maneira a deixar o corpo pendurado até sufocar.

Balal se mexia e implorava por perdão, enquanto Samereh Alinejad, mãe da vítima, perguntava, aos gritos, se a multidão sabia o que era “viver numa casa vazia”.

Alinejad perdeu dois filhos. Abdollah Hosseinzadeh foi morto a facadas por Balal numa briga de rua, em 2007, de acordo com agências de notícias locais. Três anos depois, outro filho morreu num acidente de moto.

Segundo antes da aplicação da sentença, Alinejad aproximou-se de Balal e lhe deu um vigoroso tapa na cara, registrado por fotógrafos. Ela então anunciou que o perdoava e desamarrou a corda com ajuda do marido, um ex-jogador de futebol profissional.

“O assassino chorava pedindo perdão. Eu o esbofeteei na cara. Esse tapa me acalmou”, relatou Alinejad ao jornal “Shargh”.

A mãe se disse “aliviada” por tê-lo perdoado.

“Eu creio em Deus. Tive um sonho no qual meu filho me dizia que ele estava em paz e num lugar bom. Depois disso, todos os meus parentes, inclusive minha mãe, me pressionaram a perdoar o matador.”

Movimento civil

A reviravolta ocorreu em meio a um crescente movimento no Irã que visa incentivar famílias de pessoas assassinadas a perdoar os matadores para livrá-los da pena capital aplicada quase sistematicamente contra assassinos.

A lei iraniana, baseada numa interpretação ultraconservadora da jurisdição islâmica, prevê que a possibilidade de perdão cabe somente à família da vítima. De praxe, os assassinos perdoados devem fornecer uma compensação financeira, conhecida como “dinheiro do sangue”.

O movimento, orquestrado pela sociedade civil, visa diminuir o número de execuções no país, recordista mundial na aplicação da pena capital, ao lado da China.

Nos quatro primeiros meses de 2014, ao menos 170 pessoas foram executadas por autoridades iranianas, segundo a ONU.

A maior parte das sentenças são aplicadas contra acusados de assassinato, estupro e narcotráfico.

O caso de Balal havia atraído a atenção de várias celebridades, como Adel Ferdosipour -espécie de “Tiago Leifert” local- e o ex-jogador Ali Daei, lenda do futebol iraniano, que defendiam perdão.

Após ter a vida poupada, Balal fez um apelo emocionado a uma emissora de TV pedindo que pessoas não carreguem armas brancas -o porte de armas de fogo é extremamente restrito.

“Eu queria que alguém tivesse me esbofetado na cara quando quis sair por aí carregando uma faca”, disse Balal.