MARIO CESAR CARVALHO, MARIANA BARBOSA E DANIEL CARVALHO SÃO PAULO, SP – O empresário pernambucano João Lyra de Melo Filho disse que comprou o avião em que viajava o candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB) com recursos que emprestou do filho de seu padrasto e de um amigo. Policiais que investigam o acidente suspeitam que a aeronave foi comprada com recursos de caixa dois de empresários ou do partido. Campos e outros seis profissionais da campanha morreram na queda do avião em Santos (SP), no último dia 13. Melo Filho citou os empréstimos porque ele assinou um compromisso de compra da aeronave, no valor de cerca de R$ 18,5 milhões, mas não tem capacidade econômica para arcar com um débito desse valor, segundo a Cessna, fabricante e dono do avião.

O empresário é dono de uma financeira em Recife, que já foi multada em R$ 200 mil por órgãos do governo por não comunicar operações suspeitas de lavagem de dinheiro. Ele diz que tomou emprestado R$ 727,8 mil da empresa Ele Leite Ltda, que pertence a um empresário ligado ao PSB de Pernambuco, Eduardo Ventola. Ele não revela o valor que emprestou do filho do seu padrasto, o advogado Luiz Piauhylino Monteiro Filho. O avião foi comprado em 15 de maio deste ano do grupo A. F. Andrade, de Ribeirão Preto, que já foi dono da maior usina de açúcar do país, mas está em processo de recuperação, com dívidas de R$ 341 milhões. O empresário pernambucano pagou cerca de R$ 2,5 milhões que o grupo Andrade devia à Cessna e herdou um débito de US$ 7 milhões (R$ 16 milhõe

s). Melo Filho indicou duas empresas para assumir a dívida: a Bandeirantes Companhia de Pneus e a Br Par Participações. Ambas também foram recusadas pela Cessna por falta de capacidade econômica. A Bandeirantes pertence ao empresário Apolo Santana Filho, que é réu numa ação penal sob acusação de fraude em importação de pneus. Santana Filho disse em nota que teve interesse pelo avião, mas o negócio não foi adiante (o motivo é a recusa da Cessna em aceitá-lo como herdeiro de uma divida de R$ 16 milhões). Santana Filho é dono de outro avião, que também foi usado por Campos na campanha à Presidência. Nota do PSB refuta a hipótese de caixa dois. Diz que o avião foi emprestado ao partido pelos dois empresários pernambucanos.