FELIPE GUTIERREZ
BUENOS AIRES, ARGENTINA – Em seu primeiro discurso público, Máximo Kirchner, filho de Nestor e Cristina, fez uma referência explícita à possibilidade de uma nova reeleição de sua mãe, algo que, pelo texto atual da Constituição, está vetado.
“Se estão tão interessados em acabar com o kirchnerismo, porque não competem com a Cristina, ganham dela e acabou o assunto?”, questionou Maximo em um evento da organização de militantes que ele comanda, a La Cámpora, em um estádio de Buenos Aires, no sábado (13). Apesar de ser o líder máximo da organização, ele nunca havia feito um discurso em seus encontros.
Em uma entrevista a uma rádio, o deputado federal Andrés Larroque, que é vinculado ao grupo, reiterou a ideia, afirmando que se o atual é tão ruim como diz a oposição, “o melhor que pode acontecer é que se possa competir contra Cristina”.
Pelo texto atual da Constituição, o presidente pode ser reeleito consecutivamente uma única vez, como é no Brasil. Cristina foi escolhida a primeira vez em 2007 e, a segunda, em 2011. O seu mandato vai até o fim do ano que vem.
Para alterar é preciso, primeiro, que dois terços dos senadores e deputados decida que existe essa necessidade, depois, o legislativo precisa votar um projeto de lei para chamar a eleição de uma comissão constituinte e os representantes desse outro grupo irão tomar as decisões sobre o novo texto.
Para a advogada Mariela Ubertí, da Associação Argentina de Direito Constitucional, não se consegue fazer isso a tempo para o ano que vem, data das novas eleições, e nem mesmo há consenso político sobre o tema. “É querer sem poder”, resume.
A deputada Mayra Mendoza, que é kirchnerista e pertence a La Cámpora, reconhece que seria inviável. “Não estamos loucos, sabemos que não se pode chamar a re-reeleição. Máximo pediu para que a oposição seja humilde”, disse Mendoza em uma entrevista a uma rádio.
O governador do Estado de Buenos Aires, Daniel Scioli, que é pré-candidato ao cargo de Cristina, disse que Máximo Kirchner não postulou a candidatura da mãe e que dizer isso é distorcer.
Mas alguns políticos ligados ao governo deram demonstrações de sua vontade. O senador Aníbal Fernández, da mesma coligação da presidente, deu uma entrevista a uma rádio na qual afirmou que o discurso do filho da presidente explicitou “o verdadeiro sentimento do interior de Cristina Kirchner e de seu entorno, que é ‘eu quero a re-reeleição'”.
Ele também lembrou que é possível modificar o artigo da Constituição: “Modifiquemos conforme o artigo que diz que se pode modificar tudo ou algumas partes com os dois terços [dos legisladores]. Sem querer interpretar literalmente [o que disse] Máximo, compreendo o que ele está dizendo: se dizem que ela é tão ruim, mudem a Constituição e disputem com ela, porque vão ganhar facilmente”.