CÉSAR ROSATI E GIOVANNA BALOGH SÃO PAULO, SP – Uma onda de pânico e depredação tomou conta de parte do centro de São Paulo após um confronto no desejo de famílias sem-teto de um prédio na avenida São João, na manhã desta terça-feira (16). Ao menos uma loja da Claro e outra da Oi foram saqueadas. Sem-teto e policiais militares entraram em confronto durante a reintegração de posse. Por volta das 10h, um ônibus foi incendiado perto do Theatro Municipal, que fica a poucos metros do prédio invadido e também da sede da prefeitura e lojas foram atacadas. Segundo a polícia, não é possível dizer se os atos têm ligação direta com a reintegração de posse. Pessoas que cobriam o rosto com máscaras ou com a própria camisa ajudaram a incendiar o ônibus e tentaram arrombar lojas para fazer saques. Logo que começou a correria nas imediações do viaduto do Chá, lojistas fecharam os estabelecimentos nas ruas Xavier de Toledo, Sete de Abril, 24 de Maio e Barão de Itapetininga, onde uma loja da Claro foi arrombada e saqueada. O trânsito no centro da cidade foi afetado por causa de desvios e interdições que não estavam programadas com antecedência. Linhas de ônibus também foram afetadas. Policiais percorrem as ruas do centro atrás de possíveis depredadores. Uma cabine de fiscalização de ônibus foi incendiada na rua Xavier de Toledo com a avenida São Luís. O comandante da operação da PM no centro Glauco Silva de Carvalho diz que não houve excessos por parte da corporação e que os policiais apenas revidaram após serem atacados. Segundo o oficial, dois policiais ficaram feridos e uma sem-teto grávida foi encaminhada a um hospital da região. O comandante disse ainda que pessoas de fora “aproveitaram do momento e se agruparam para atacar a PM”. Ele não soube especificar se as pessoas que incendiaram o ônibus são ou não sem-teto. O comandante disse ainda que a PM ficou duas horas tentando negociar com os sem-teto, mas que houve resistência. “As decisões judiciais têm que ser cumpridas, mas não é dessa maneira que queremos fazer uma reintegração”. Segundo ele, os sem-teto também atiraram rojões contra os PMs. Os moradores, que fazem parte da FLM (Frente de Luta por Moradia), se recusavam a deixar um prédio ocupado na avenida São João. Por volta das 10h20, no entanto, os policiais conseguiram entrar no edifício e retirar os sem-teto. Cerca de 80 pessoas que estavam no prédio foram encaminhadas ao 3º DP para averiguação. Um carro da Tropa de Choque chegou a ser usado para derrubar o portão para permitir a entrada dos policiais no prédio. Segundo a PM, a confusão começou porque os sem-teto atiraram pedras e partes de móveis e eletrodomésticos contra os policiais. Pedaços de sofá e até de geladeira foram arremessados de vários andares do prédio. Os PMs revidaram com balas de borracha e bombas de efeito moral. Para resistir, os sem-teto chegaram a atear fogo em pedaços de madeira e cavaletes usados na campanha eleitoral para fazer uma barricada e impedir a entrada da PM, mas os policiais apagaram as chamas. Segundo a FLM, cerca de 200 famílias que não tinham para onde ir ainda permaneceram no prédio de 20 andares antes do despejo se concretizar. Outras 115 famílias deixaram o local quando souberam da reintegração de posse, segundo a FLM. De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública, a reintegração de posse foi pedida na Justiça pelo proprietário do imóvel, a Aquarius Hotel Limitada. A ação, diz a secretaria, estava prevista para acontecer no dia 11 de junho, porém, na ocasião, foi cancelada porque não foram disponibilizados pela empresa proprietária do local -conforme previamente estabelecido- caminhões e carregadores para o transporte dos pertences dos moradores. A reintegração foi reagendada para o dia 27 de agosto. Porém, no dia, foi novamente suspensa porque os oficiais de Justiça avaliaram que a quantidade de caminhões e transportadores ainda não era suficiente. Foram feitas reuniões entre a Polícia Militar, advogados da empresa proprietária e moradores, para acertar como seria a saída.