SAMANTHA LIMA
RIO DE JANEIRO, RJ – O subsecretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcio Holland, reagiu irritado às críticas ao governo de Dilma Rouseff, feitas pelos economistas Samuel Pessoa, da FGV, e Marco Bonomo, do Insper, durante o seminário “Cenários pós-crise”, que aconteceu nesta segunda (22), no Rio.
Holland recomendou aos oponentes “atualizar leitura” e ouviu, em resposta, outras provocações e a avaliação de que está “em situação desfavorável”.
Bonomo e Pessoa participam das formulações dos programas econômicos dos candidatos à presidência Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), respectivamente.
O seminário foi organizado pela FGV, pelo jornal “Valor Econômico” e pelo Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
Primeiro a falar depois do mediador e ex-presidente do Banco Central, Carlos Langoni, Holland afirmou que a economia brasileira mostrou uma “resistência muito grande”.
“O Brasil mostrou este ano que tem bons fundamentos. Adquirimos uma capacidade de crescimento melhor do que tínhamos no passado, crescemos 2,8% em média anual em período de crise. O país é um dos cinco que mais atraem investimentos. O mercado de trabalho está próximo do pleno emprego e a dívida bruta tem se mantido estável”, disse.
O representante do Ministério da Fazenda destacou, ainda, que não há represamento de preços com intuito de segurar a inflação. “Os preços administrados [que dependem de decisões do governo] subiram 5% no ano”.
DESACELERAÇÃO
Samuel Pessoa ressaltou, logo em seguida, que a média de crescimento dos quatro anos do governo Dilma, de 1,7% ao ano, é 2,5% abaixo da média dos oito anos anteriores, do governo Lula. No mundo, afirmou o economista, a desaceleração havia sido de apenas 0,5%.
“Somos uma das economias mais fechadas. Dizer que o mundo desacelera a economia brasileira não faz sentido”, opinou.
Para Pessoa, uma das causas do baixo crescimento é o que chama de “contrato social da redemocratização”, que se reflete nos elevados gastos sociais. Outra explicação, indicou, são as decisões tomadas pela equipe econômica.
“Eles acreditam que sejam absolutamente essenciais para recuperar o crescimento. É um forte intervenção no câmbio, uma enorme leniência com a inflação, é recorrer a artifícios para aumentar o superávit primário [economia para pagar juros], além de uma fortíssima redução do superávit primário, que este ano vai ser zero, é o controle de preços, é adotar políticas heterodoxas para forçar o BC a baixar os juros na marra, é a distorção dos financiamentos do BNDES”.
INDEPENDÊNCIA
Bonomo, por sua vez, iniciou sua apresentação provocando Holland.
“Ouvindo o Marcio falar parece que o país não é o nosso, que nada de errado aconteceu no país nos últimos anos. Mas quando eu penso no que vai ser o próximo governo, temos uma herança maldita na macroeconomia. Tivemos uma deterioração da transparência muito grande. Não sabemos qual é o grau de confiança dos números, temos a contabilidade criativa, subsídios não declarados, pedaladas, deterioração fiscal por motivos fúteis. O aumento dos empréstimos subsidiados não teve alta no investimento, não teve retorno para a sociedade”, afirmou.
Bonomo defendeu a independência do Banco Central. “O objetivo é que pressões políticas não atrapalhem sua missão. Países com perfis parecidos ao Brasil que têm independência do BC têm inflação mais baixa. Isso ajudará a recuperar a credibilidade”, argumentou.
LEITURA
Ao ser chamado a fazer as considerações finais, Holland surpreendeu pela forma como rebateu as críticas.
“Acho que você deve atualizar a leitura sobre pós-crise, Samuel. Samuel ainda acredita em Friedman [Milton, um dos mais renomados teóricos do liberalismo econômico, morto em 2006]. Ele ganhou o Nobel de Economia nos anos 60, mas de lá para cá a economia já modernizou. Eu recomendo a você o estudo do FMI que diz que mais da metade da desaceleração da economia se deve a fatores externos”, disse o subsecretário.
Holland acusou Bonomo de “inventar conceito”. “Dá uma olhada nos dados. Você começa a inventar conceito. Toma cuidado quando inventar conceito. Que país é esse, Bonomo? Eu usei dados. Eu não usei teoria abstrata”.
O subsecretário do Ministério da Fazenda também chamou de “ingênua” a apresentação do Bonomo. “Eu recomendaria ler o John Taylor, que diz que o BC americano deve olhar 50% para o crescimento e 50% para a inflação. Isso é muito mais complexo do que uma apresentação ingênua de prós e contras”.
RÉPLICAS
Com a palavra de volta, Pessoa defendeu os dados apresentados, não sem antes alfinetar o representante do governo. “Eu vou ser rápido porque o Márcio está em situação desfavorável. E quando uma pessoa sugere que o oponente é ignorante, é sinal de que a gente está em maus lençóis”. E terminou dizendo que “Friedman é um técnico espetacular com quem a gente vai entender muito ainda a respeito do século 21”.
Visivelmente contrariado, Bonomo disse que ficou “surpreso com o tom dos comentários” de Holland. E voltou a provocá-lo. “Quando vi o programa da Dilma [que associou a independência do Banco Central ao ‘sumiço’ de comida do prato dos brasileiros], eu me perguntei, ‘será que o Márcio não fica constrangido?”
Em relação à invenção de conceitos, pelo que foi acusado por Holland, Bonomo disse que “a contabilidade criativa faz a gente procurar outros meios para entender o que aconteceu”