JOÃO PEDRO PITOMBO
SALVADOR, BA – O Hospital Espanhol, um dos mais tradicionais da Bahia, fundado há 129 anos e situado em área nobre de Salvador, negocia com grupos privados para retomar as atividades depois de ter fechado as portas.
Com uma dívida de R$ 200 milhões com bancos, fornecedores, médicos e funcionários, o hospital enfrenta uma grave crise financeira desde 2011, que culminou com o encerramento das atividades há cerca de dez dias.
A instituição é gerida pela Real Sociedade Espanhola de Beneficência, entidade sem fins lucrativos ligada à comunidade de descendentes de espanhóis da capital baiana.
Pelo menos três grupos nacionais e um estrangeiro, de origem espanhola, negociam para assumir a estrutura do hospital, que fazia em média 120 atendimentos de emergência, 40 cirurgias e 600 exames diagnósticos por dia.
O principal entrave, contudo, é encontrar uma equação financeira capaz de tornar o negócio viável. Aquisição e arrendamento estão entre as opções estudadas.
Para evitar a investida de empresários dos setores imobiliário e hoteleiro, o governo baiano decretou o imóvel, próximo ao Farol da Barra, de utilidade pública.
SUCESSÃO DE ERROS
O fechamento do hospital é mais um capítulo da crise dos filantrópicos no país -em julho, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo chegou a interromper os atendimentos de urgência. Fatores como má gestão e defasagem na tabela do SUS (Sistema Único de Saúde) são apontados como causas da crise.
No caso do Espanhol, uma sucessão de erros dos gestores da unidade é apontada como principal motivo da crise, que veio à tona há cerca de quatro anos.
Atual gestor financeiro do hospital, Cláudio Imperial afirma que empréstimos tomados para a construção de um centro médico e investimentos em equipamentos comprometeram a saúde financeira da instituição.
Em abril do ano passado, após uma série de paralisações de médicos e funcionários, o hospital conseguiu um empréstimo de R$ 105 milhões da Caixa Econômica Federal e da Desenbahia (agência de fomento estadual).
Como contrapartida, os bancos exigiram a profissionalização da gestão do hospital, redução de gastos e aumento do faturamento.
A gestão foi assumida por um conselho de administração formado por membros da comunidade espanhola e do governo baiano, em parceria com a Fundação José Silveira, também filantrópica.
A entidade, contudo, ficou apenas 11 meses à frente do hospital e encerrou a parceria após a Caixa exigir que a entidade assumisse a gestão plena do hospital.
“Não houve redução das despesas nem aumento de faturamento. Os empréstimos demoraram a sair, e o hospital ficou inerte. Foi reduzindo o número de leitos e, assim, o potencial de faturamento”, afirma Imperial.
O secretário de Saúde da Bahia, Washington Couto, diz que a prioridade do governo é trabalhar pela reabertura do hospital, garantindo a retomada para a cidade de 300 leitos, sendo 60 deles de UTI.
E não descarta a possibilidade de transformá-lo em hospital público. “Essa é a nossa última opção, nosso plano Z. O importante é garantir que esse hospital tão estratégico continue servindo à população”, afirma.