MONIQUE OLIVEIRA
SÃO PAULO, SP – No segundo dia da CPI da Assembleia Legislativa que investiga violações de direitos humanos em instituições de ensino em São Paulo, Simone Diniz, professora de Saúde Pública da USP, e Valéria Sousa, da Associação Artemis, denunciaram caso de violência obstétrica no HU (Hospital Universitário), que é vinculado à Faculdade de Medicina da USP.
Elas dizem que mulheres são submetidas sem consentimento a procedimentos indesejáveis para finalidade de treinamento dos residentes.
A professora cita o caso de uma paciente em que foi feita a episiotomia dupla, cortes laterais feitos na vagina durante o parto para facilitar a saída do bebê, sem consulta à paciente com todos os alunos assistindo.
“A prática é feita com base em um mito de que a vagina fica frouxa depois do parto” diz Simone Diniz. “Mas ela é desnecessária e se enquadra num contexto de violação.”
“É uma percepção errada do corpo feminino que evolui para várias formas de abuso. Essa visão reproduz um comportamento de autoridade do médico”, diz Valéria Sousa, da Associação Artemis, entidade que luta contra a violência da mulher.
“A fisiologia da vagina permite a passagem do bebê e, após, ela volta à sua forma natural”, conclui.
PONDERAÇÕES
“A episiotomia as vezes é necessária para evitar danos maiores, como a ruptura do ânus”, diz Carlos Bezerra, obstetra e deputado pelo PSDB.
A advogada da Associação Artemis cita parecer da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) de 2009, que postula que a episiotomia não previne esses danos e que só é necessária em 2% dos casos.
“Também há portaria 1067 de 2005 do Ministério da Saúde que reitera que a mulher é um sujeito de direito no parto e deve ser consultada”, diz Valéria.
Depois da denúncia, foi aprovado requerimento para que a vítima compareça para depor na CPI e uma sessão especial foi aberta para investigar outros casos de violência obstétrica no Hospital Universitário.