ALEXANDRE ARAGÃO, MARIO CESAR CARVALHO E RUBENS VALENTE
SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF – O empresário Shinko Nakandakari, um dos delatores na Operação Lava Jato, afirmou em depoimento ao Ministério Público Federal que pagou R$ 2,1 milhões em propinas a “Nobre” e a “Amigão”, como se referia ao ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato de Souza Duque e ao ex-gerente da área Pedro Barusco, respectivamente.
Ao menos parte dos valores foram repassados em espécie e pessoalmente, de acordo com Nakandakari -os pagamentos foram feitos entre setembro de 2008 e agosto de 2010, segundo ele.
De acordo com a fala, que faz parte de seu acordo de delação premiada, Shinko intermediou a obtenção de contratos na petroleira estatal para a Galvão Engenharia. Um deles, no valor de US$ 12 bilhões, diz respeito ao aluguel e à operação de três navios-sonda, durante 15 anos, para atuarem na perfuração de óleo e gás no pré-sal.
Ele admitiu, ainda, ter recebido R$ 900 mil pela intermediação.
Os valores a serem distribuídos para Duque e Barusco, sempre de acordo com Nakandakari, eram definidos pela diretoria da Galvão Engenharia. O esquema difere, por exemplo, do narrado pelo ex-executivo da Toyo Setal Julio Camargo, também delator, que disse negociar ele próprio os percentuais caso a caso.
Nakandakari mantinha encontros frequentes em hotéis e restaurantes de São Paulo e do Rio de Janeiro tanto com diretores da Galvão como com Pedro Barusco, que seria responsável por repassar as quantias destinadas a Duque.
A Galvão afirmou por nota que Nakandakari jamais foi funcionário da empresa e que os pagamentos a que ele se refere foram resultado de extorsão por parte dos funcionários da Petrobras.
RENATO DUQUE
Preso em novembro passado, na sétima fase da Operação Lava Jato, o ex-diretor Renato Duque foi solto pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki em 3 de dezembro, após passar 19 dias na prisão. No último dia 10, a Segunda Turma do STF reiterou a decisão de Zavascki.
O ex-gerente Pedro Barusco -que também fechou acordo de delação- disse que Duque chegou a receber uma espécie de mesada, a partir de dinheiro ilegal, na sede da Petrobras no Rio de Janeiro.
O ex-gerente afirma que ele recebeu por Duque entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões entre 2003 e o fim de 2011 em contas no exterior. Barusco relata que também recebia propinas em reais, pagas mensalmente entre 2005 e 2011, em valores que somam entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões.