Dizem por ai que o grito na educação não é coisa nova. Há gerações e gerações gritando com os filhos como um modo de impor as regras e a obediência. Resolve? Não tenho memória de gritos na minha educação, o que acontecia certamente era um tom mais firme quando era chamada a atenção por algo errado.

Entretanto, há quem considere o grito algo normal, uma forma de impor a autoridade. Mas o grito está se tornando recorrente, como se fosse a nova palmada que se dava na bunda quando a criança fazia a travessura. Embora muitos pais admitam que gritem, nenhum deles quis se expor para essa coluna

Segue abaixo análise da psicóloga Sulliane Teixeira de Freitas, analista do comportamento e professora da UniBrasil, a respeito do grito como possível substituto da palmada:

Palmadas e gritos podem ter função de punição aos comportamentos inadequados das crianças, se for observado que tais ações tornam-se menos frequentes. Muitos acreditam que elas não deveria ser utilizadas, outros que elas são extremamente necessárias. O primeiro é que de nada adianta punir comportamentos inadequados, se não forem valorizadas as ações adequadas da criança, que antes de mais nada, precisa ser ensinada, especialmente por meio de modelo e de instruções. O segundo aspecto, é que os efeitos da punição são apenas temporários. A criança pode deixar de se comportar inadequadamente na presença dos pais para evitar a punição, mas nada garante que deixará de agir assim caso os pais estejam ausentes. Além disso, não há garantias de que o comportamento adequado aconteça, pois pode ser que a criança nem saiba o que é esperado pelos pais. Nesse sentido é preciso um esforço muito maior que vai para além da punição. A valorização de comportamentos alternativos precisa acontecer. E essa é a verdadeira educação.

Voltando à questão inicial, penso que não cabe supor que os gritos são a nova palmada, pois já eram uma prática utilizada por muitos pais antes mesmo das palmadas serem proibidas. Os filhos podem entender os gritos como uma forma de punição, mas não acredito que seja por isso que os pais gritem com seus filhos, e sim por outras causas:

Busca por respeito: Entendo os gritos como uma forma dos pais tentarem impor respeito frente aos filhos. Quanto mais os filhos desobedecem, mais alto os pais tendem a gritar, na convicção de que conseguirão o que querem desta maneira. É uma prática pouco efetiva para educar, e que certamente torna a comunicação entre pais e filhos mais empobrecida e enfraquece o vínculo.

Ausência de autocontrole: Quando os filhos desobedecem com muita frequência, ou fazem algo de maior gravidade, os pais obviamente sentem-se frustrados, irritados, raivosos. Estresse: pais estressados por diversos motivos como problemas na relação conjugal, trabalho, problemas financeiros, tendem a ser menos pacientes com seus filhos e por isso tendem a gritar mais por se tornarem mais intolerantes. É preciso lembrar que não se pode descontar nas crianças as frustrações dos adultos. Os efeitos do grito podem ser diversos, dependendo da criança e da relação que estabelece com os pais. Algumas crianças ignoram quando os pais fazem isso, respondem com ironias ou provocações. Algumas obedecem por medo, caso os gritos sejam acompanhados de outras formas de violência. A certeza é que os gritos não impõem respeito.

Os gritos podem ser sim uma forma de agressão se tiverem em seu conteúdo xingamentos, desvalorização da criança, menosprezo ou aterrorização. Neste sentido podem acarretar vários prejuízos para o desenvolvimento infantil e serem considerados maus tratos, assim como são as punições físicas e a negligência.

Tal como as palmadas, os gritos não são uma boa forma de educar.

 

Ronise Vilela é jornalista e mãe. Sugestões de pauta podem ser enviadas para [email protected]