Eloah Vieira Karas, de 6 anos, mora com a avó paterna – a bancária Lucia de Souza – e o segundo marido da avó, o contador Ariovaldo Ferreira. Ela faz parte de 44% das famílias brasileiras que já não se encaixam mais no modelo nuclear, que representava a quase totalidade das famílias do século passado, com pai, mãe e filhos de um único casamento.

Essa mudança nos modelos familiares levou os educadores e as instituições de ensino a repensarem a forma de dialogar e homenagear os membros da família dos alunos. Por isso, alguns colégios de Curitiba optaram por promover comemorações do Dia Internacional das Famílias, celebrado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 15 de maio, desde 1994 – em vez de homenagear um ou outro membro, em específico.

O Colégio Positivo Júnior e o Colégio Positivo – Jardim Ambiental realizam a comemoração com alunos e familiares, neste mês, enquanto o Colégio Positivo Internacional promoveu o Family Day em abril. É um dia de celebrar o afeto e a união que definem a nova família, uma vez que a estrutura familiar, tradicional ou não, é a base para o desenvolvimento e aprendizado de crianças e adolescentes, afirma a professora Domus Aurea, gestora da Educação Infantil do Colégio Positivo – Jardim Ambiental. Para Lucia de Souza, a comemoração é muito bem-vinda e evita constrangimentos das crianças que, como Eloah, não moram com o pai ou com a mãe.

Segundo a professora, é função da escola permitir que o assunto seja pensado e conversado, já que os educadores possuem papel fundamental na forma de tratar o tema. Pais separados, mães solteiras, avós responsáveis por netos e tantas outras configurações compõem núcleos que podem até fugir do idealizado pela sociedade, mas possuem plenas condições de obter sucesso na educação de crianças sob sua responsabilidade, afirma Domus.

O último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, mostra que, dos 57 milhões de lares brasileiros, apenas 66% são famílias nucleares. As transformações sociais atingiram diretamente o núcleo familiar, trazendo inúmeros benefícios para o desenvolvimento da criança.

A família moderna não é somente formada por ascendentes e descendentes, também não se origina mais exclusivamente do matrimônio, mas é fundada na solidariedade, na cooperação entre seus membros, no respeito à dignidade e buscando a realização plena de cada uma das pessoas, envolvendo mais a afetividade do que a propriedade, ressalta a professora.

A evolução do modelo familiar
A sociedade brasileira do século passado, tutelada pelo código civil de 1916, trazia uma visão diferente em relação à família, em função do contexto social da época. A família matrimonializada, patriarcal e patrimonialista apresentava distinção entre os membros. As pessoas unidas sem os laços matrimoniais e os filhos nascidos dessas uniões sofriam discriminação. Com a Constituição Federal de 1988, surgiu um novo conceito de família, denominado eudemonista, que prima pelo afeto entre os integrantes. O crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho, no final do século XX, fez com que as famílias passassem de um modelo no qual o número de integrantes era muito grande, para outro nuclear, formado apenas por pai, mãe e filhos. Atualmente, a família pós-nuclear é pluralística, para a qual a forma não importa — e sim o afeto, a cooperação entre seus membros, independente de sexo e de padrões pré-estabelecidos.