MARIANA CARNEIRO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A cinco meses da eleição na Argentina, o cenário eleitoral caminha para uma polarização em que se coloca em xeque nas urnas a continuidade do projeto da presidente Cristina Kirchner ou uma mudança na administração do país.
Pesquisa de intenção de voto divulgada no último fim de semana indica que o candidato oficialista com mais vantagem, o governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, da Frente para Vitória (FpV), tem 33% das intenções de voto, seguido de perto pelo oposicionista Maurício Macri (PRO), com 32%.
A terceira via, representada pelo prefeito de Tigre, Sérgio Massa, vem perdendo força e soma pouco mais de 13% das intenções neste momento, segundo o instituto Management & Fit.
Esta é a eleição mais concorrida na Argentina da última década, quando chega ao fim 12 anos sucessivos de mandatos da família Kirchner.
O discurso da presidente Cristina, no feriado de 25 de maio, deu sinais de como deverá se comportar o oficialismo na campanha.
Ela tentou rejeitar o cenário de polarização, mas acabou reforçando a ideia de que uma mudança poderia pôr fim às conquistas de sua gestão ou significaria um retrocesso às políticas dos anos 1990 —de endividamento excessivo e enriquecimento de uma parte da população.
“Não é mudança ou continuidade, por Deus. Os que querem mudança que expliquem a todos os argentinos que tipo de mudanças desejam. Peço a todos os compatriotas que cuidemos do que foi conquistado e nos ajudem a corrigir os erros que sem dúvida existem”, discursou Cristina, na Praça de Maio.
“Ninguém vota olhando para trás, as pessoas votam olhando para o futuro, para a melhora.”
As pesquisas de intenção de voto apontam certa inclinação pela mudança. “Se não de modelo, de estilo”, frisou a diretora da Management & Fit, Mariel Fornoni, referindo-se a Scioli.
O governador não é identificado com o kirchnerismo, embora represente o partido da presidente nas eleições.
As medições feitas pelo instituto, observa ela, indicam que o eleitorado se divide entre uns 30% que desejam a manutenção do modelo, 32% que querem modificá-lo completamente e 35% que querem a mudança mantendo algumas coisas.
“Esse [último] percentual é o que varia hoje e que pode ir para um lado ou para outro. A situação em que se encontrar o país no momento do voto será um fator determinante.”
A candidatura de Scioli tem tentado se equilibrar para capturar votos tanto dos que aprovam o kirchnerismo quanto dos indecisos, vendendo-se como uma mescla de continuidade e mudança.
Mas Cristina, sua principal cabo-eleitoral, parece avessa à fórmula e resiste em dar a bênção à sua campanha.
Prefere participar de eventos ao lado do ministro dos Transportes, Florêncio Randazzo, que disputa para ser o seu candidato prometendo “aprofundar o modelo” (atual expressão da moda na Argentina).
Nos últimos dias, Scioli voltou-se ao trabalho interno, tentando se firmar como o candidato do governo. Indicou que o ministro da Economia, Axel Kicillof (o preferido de Cristina, em suas próprias palavras), poderia ocupar um lugar em seu governo e passou a usar mais o azul-celeste, cores do FpV.
Para Fornoni, a presidente busca reforçar o seu poder, olhando para o período pós-eleitoral.
“Cristina busca consolidar para si mesma tudo o que construiu ao longo da década. O discurso não parece de uma figura que pretenda despedir-se legando seu poder a um herdeiro [político].”
Segundo o analista Rosendo Fraga, a atual polarização tende a dar vantagem ao lado governista, uma vez que os candidatos da oposição estão divididos —Macri rejeitou criar uma ampla aliança opositora ao lado de Massa.
“Isso aumenta a possibilidade de que o oficialismo ganhe as eleições desde as primárias [marcadas para agosto]”, disse.