SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou nesta quinta-feira (28) os Estados Unidos de interferência fora de sua jurisdição na operação que resultou na prisão de dirigentes da Fifa.
Putin disse que as prisões realizadas na Suíça na quarta (27) foram uma “tentativa óbvia” de tentar impedir a reeleição do presidente da Fifa, Joseph Blatter, 79, apoiado pela Rússia.
O presidente da União de Futebol da Rússia (UFR), Nikolai Tolstykh, insistiu que seu país apoiará Blatter. “A UFR apoiará a candidatura de Blatter, um presidente que fez muito pelo mundo do futebol”, disse Tolstykh.
Tolstykh também assegurou que a UFR não apoia o adiamento das eleições, às quais também concorre o príncipe jordaniano Ali Bin al-Hussein, previstas para esta sexta-feira (29).
“Na minha opinião, na sexta-feira devem ser realizada eleições para presidente da Fifa e o senhor Blatter tem todas as possibilidades de ser eleito”, disse Putin.
O presidente russo acrescentou que a detenção de vários altos responsáveis da Fifa por acusações de corrupção em uma investigação aberta nos EUA “é uma clara tentativa de não permitir a reeleição de Blatter como presidente da Fifa”.
As autoridades suíças também anunciaram uma investigação criminal na escolha das sedes das próximas duas Copas do Mundo, incluindo o torneio de 2018, na Rússia.
“Se algo aconteceu, não aconteceu em território norte-americano e os Estados Unidos não têm nada a ver com isso”, disse Putin. “Esta é outra tentativa descarada [dos Estados Unidos] de estenderem sua jurisdição para outros países”, acrescentou.
Citando o ex-prestador de serviço de agência de inteligência dos EUA Edward Snowden e o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, ambos se escondendo no exterior da Justiça dos EUA, Putin questionou o direito de Washington em pedir a extradição de autoridades da Fifa.
“Infelizmente, nossos parceiros norte-americanos usam tais métodos para alcançar seus objetivos egoístas e perseguir pessoas ilegalmente. Eu não descarto que no caso da Fifa, é a mesma coisa”, disse Putin.
BASE LEGAL
Há, no entanto, base legal para as detenções.
Os dirigentes presos na Suíça tinham ligações com a Fifa, organização com sede na Suíça, dirigem ou dirigiram confederações em outros países e são acusados de pagar propinas em diversos locais do mundo. Ainda assim, foram presos por determinação da Justiça dos Estados Unidos.
Isso porque, ainda que parte dos crimes investigados não tenha acontecido em solo americano, as autoridades dos EUA têm instrumentos legais para processar e condenar cidadãos ou empresas estrangeiras por atos de corrupção desde que eles tenham conexão com atividades no país.
De acordo com a secretária de Justiça, Loretta Lynch, os acusados usaram bancos e sistemas de remessa de dinheiro americanos para distribuir pagamentos de propinas oriundos do esquema.
“Quem encosta nas nossas fronteiras com empreendimentos de corrupção por meio de reuniões ou do uso do nosso sistema financeiro será considerado responsável. Ninguém está acima ou abaixo da lei”, disse James Comey, diretor do FBI, polícia federal norte-americana.
Um dos instrumentos que pode ser usado pelas autoridades americanas é a lei de combate à corrupção no exterior, conhecida como FPCA.
Em vigor desde 1977, o texto se aplica a empresas e indivíduos norte-americanos, mas também a estrangeiros com atividades ou que tenham propriedades no país.
O mercado do “soccer” (futebol) cresceu exponencialmente nos últimos anos, o que daria razões econômicas para as investigações. Segundo a revista “Forbes”, o faturamento da liga americana subiu quase 200% entre os anos de 2008 e 2012.
Lynch ainda usou como exemplo a realização nos Estados Unidos, em 2016, da Copa América. “O que deveria ter sido uma expressão de espírito esportivo internacional foi usado como veículo para um esquema de propinas”, disse.