LEANDRO COLON, ENVIADO ESPECIAL
ATENAS, GRÉCIA (FOLHAPRESS) – A dois dias do plebiscito sobre um acordo com credores, cresceram as filas nos caixas eletrônicos em Atenas para sacar dinheiro, com limite de 60 euros por cartão, com exceção dos aposentados, que podem retirar até 120 euros.
As filas nesta sexta-feira (3) estão maiores e mais constantes do que nos dias anteriores. A reportagem percorreu as principais avenidas de Atenas e também áreas residenciais, todas com aglomeração.
Há dois temores na população: que falte dinheiro nas máquinas no fim de semana e a incerteza do que vai ocorrer com a Grécia a partir de segunda-feira (6), depois do plebiscito.
Alguns caixas eletrônicos criam problemas para os clientes: às vezes não há dinheiro disponível, e as pessoas precisam esperar a reposição, ou, em certos casos, só há cédulas de 20 euros, prejudicando quem só pode sacar, por exemplo, 50 euros, e não o limite de 60 euros.
Um jornal local criou uma promoção como “resposta” (segundo palavras da publicação) à crise: quem adquirir um exemplar neste sábado (4) leva para casa um voucher de 5 euros de desconto em compras acima de 20 euros no supermercado.
O turismo começa a ser afetado, não só pelo cancelamento de reservas, mas também por causa da falta de dinheiro para pagamento de fornecedores de suprimentos para hotéis, pousadas, entre outros estabelecimentos do setor.
O comércio reclama da falta de troco e da queda no consumo por parte da população desde segunda-feira (29), quando o controle de capital foi anunciado pelo governo.
Há vários tipos de perfis de correntistas nas filas de banco: estudantes, autônomos, desempregados, pessoas com emprego fixo, todos temerosos pelos próximos dias.
Sob desconfiança da população, o governo prometeu reabrir as agências e suspender o controle de capital no começo de semana que vem, após o plebiscito, quando os gregos vão dizer se aceitam ou não a proposta de socorro internacional dos credores, no caso, FMI (Fundo Monetário Internacional), BCE (Banco Central Europeu) e CE (Conselho Europeu).
O problema é que a convocação de última hora para a votação, anunciada no último fim de semana, e a complexidade da pergunta a ser respondida têm deixado a população incerta sobre o voto.
A pergunta será: “Deve ser aceito o acordo submetido por CE (Conselho Europeu), BCE e FMI para o Eurogrupo no dia 25 de junho, que consiste em duas partes que formam sua proposta completa?”
Uma parte se chama “Reforma para conclusão do atual programa e além”, e a outra, “Análise preliminar de sustentabilidade da dívida”. Os eleitores devem ter acesso aos documentos na hora do voto.
“Não está claro o que vai ocorrer se eu votar no ‘sim’, muito menos no ‘não’. Se eu votar ‘sim’, vou aprovar medidas de austeridade piores do que tivemos até hoje, e se votar ‘não’, não sei o que vai acontecer com meu país”, disse à reportagem nesta sexta Anna Hatzidaki, 38, professora de linguística da Universidade de Atenas. A situação se complica ainda mais porque, em tese, essa proposta dos credores não existe mais.