Oito de julho de 2014. A seleção brasileira disputava a semifinal da Copa do Mundo do Brasil. Do outro lado, a Alemanha. O Brasil começa melhor, mas aos 13 minutos os alemães abrem o placar. Aos 22, marcam 2 a 0. E vem o terceiro gol. O quarto. O quinto. O sexto. O sétimo. Nos descontos da partida, Oscar desconta no placar (sem trocadilhos). Saldo no Mineirão: Alemanha classificada para a final da Copa do Mundo e Brasil carimbado por uma vexaminosa goleada em casa. Uma cicatriz para toda a eternidade.

O tema era um só, mas a variedade de manchetes foi imensa. O Bem Paraná, por exemplo, cravou em letras garrafais, sem dó: “O País do futebol morreu”. A maioria dos jornais brasileiros estampou termos como “vexame”, “vergonha”, “humilhação”, “Mineirazo”. Alguns pregaram que, depois desse 7 a 1, os jogadores crucificados pela derrota na final de 1950 poderiam descansar em paz. Os argentinos, como sempre nessas horas, tiraram uma casquinha: “Brasil, decime como se siete”, um trocadilho com a música Decime como se siente (“Diga-me como se sente”). Mesmo a imprensa europeia, em vez de exaltar a acachapante classificação alemã, tratou o jogo como uma aberração, daquelas que acontecem de vez em nunca.

Hoje, a derrota de 7 a 1 para a Alemanha completa um ano. A desclassificação nas semifinais, no fim das contas, foi o de menos. O placar, por si só, era para ser um vexame daqueles de não deixar pedra sobre pedra. De provocar reformulações profundas no futebol brasileiro. Mas o que mudou desde então?

O técnico Luiz Felipe Scolari e o coordenador Carlos Alberto Parreira deram lugar a Dunga e Gilmar Rinaldi. Fora isso, mais nada. A seleção mostrou que continua dependente do atacante Neymar — com uma fratura na vértebra sofrida nas quartas-de-final da Copa, diante da Colômbia, ele não enfrentou os alemães. E provou isso na recente Copa América. Sem Neymar, o time sofreu para derrotar a Venezuela e empatou com o Paraguai, para depois cair nos pênaltis.

Quanto a mudanças, não vale citar a troca na cúpula da CBF. José Maria Marin o então presidente, emplacou a eleição de Marco Polo Del Nero, que era seu vice. Del Nero se tornou presidente e Marin, um vice — pelo menos até ser preso em uma operação do FBI.

Da parte da CBF, a grande providência foi montar um Conselho de Notáveis. O coordenador Gilmar Rinaldi chamou ex-treinadores da seleção para debater melhorias para o futebol brasileiro. Numa reunião realizada na segunda-feira (6), a maioria concordou que quase nada melhorou em um ano e que o investimento em categorias de base seria uma solução possível. Mas Mario Jorge Lobo Zagallo saiu-se com essa: “Não devemos nada a outras seleções. Temos tudo para ganhar a próxima Copa do Mundo. Não temos de nos preocupar com as Eliminatórias, mas com a Copa”.

E quanto a contratar um treinador estrangeiro? Ontem, o lateral Daniel Alves revelou que Pep Guardiola, que concebeu o Barcelona multicampeão dos últimos anos, admitiu que largaria seu ano sabático para assumir a seleção brasileira. Isso em 2012, quando a CBF demitiu Mano Menezes e trouxe Scolari de volta.

Dizer que com Guardiola a Copa seria diferente é imergir na Teoria do Caos. “Estamos tentando buscar soluções para melhorar o futebol como um todo. A seleção brasileira é a pirâmide, e nós não podemos nos impressionar por modismo”, disse ontem o atual ocupante do cargo, Dunga, sobre Guardiola.

Para começar uma reformulação, o Brasil poderia ao menos herdar o respeito e a humildade dos alemães, que admitiram ter diminuído o ritmo no segundo tempo daquele fatídico jogo. Se o primeiro tempo terminou 5 a 0, no segundo eles fizeram “apenas” dois gols. E, no lance em que desperdiçaram o oitavo, possibilitaram o ataque para o solitário gol brasileiro. Sim, o carimbo poderia ter sido ainda mais profundo.