PAULO ROBERTO CONDE, ENVIADO ESPECIAL KAZAN, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – Alia Atkinson, 26, carrega uma tarefa inglória: tornar a natação popular em um país que vive e respira velocidade, mas nas pistas de atletismo. Na Jamaica de Usain Bolt, Alia é um fenômeno social. Em um país que quase desconhece a natação, ela é a referência. A nadadora foi campeã dos 100 m peito no Mundial em piscina curta (25 m) de Doha, no Qatar, em dezembro passado. Foi o primeiro título de sua nação na história da natação. Foi também marcante pelo fato de ser negra. Agora, no Mundial de Kazan, que é ainda mais relevante por ser realizado em piscina longa (50 m, a mesma usada em Jogos Olímpicos), ela quer uma outra façanha. “Eu sempre tento fazer algo inédito. A Jamaica nunca conseguiu uma medalha em Mundiais em piscina longa, então é um objetivo. Se eu conseguir, será fantástico”, afirmou a nadadora, que mora e treina na Flórida, nos EUA. Na manhã desta segunda-feira (3), ela se classificou para as semifinais da prova com o oitavo melhor tempo (1min07s09). Ela tentará vaga na final ainda nesta tarde. “Qualquer coisa pode acontecer. Se eu me focar bem na prova e tiver meu melhor desempenho, é possível ganhar medalha”, complementou. Alia foi quarta colocada nos 100 m peito nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 e já está classificada para os Jogos do Rio-2016. Além disso, levou a bandeira de seu país na cerimônia de abertura do Pan do Rio-2007. Com todo esse status, ela quer ajudar a desenvolver a natação dentro de seu país. “75% dos jamaicanos não sabem nadar, e nós estamos em uma ilha. Espero que a cada ano essa porcentagem caia”, contou a atleta, que lidera uma equipe com mais dois nadadores jamaicanos. Ela foi uma exceção ao entrar na piscina, por desejo dos pais. Antes, tentou ser corredora e tenista. “Mas eu simplesmente não gosto de correr.” “Eu tentei ao longo dos anos atrair mais investimento para a natação e popularizá-la na Jamaica. Temos hoje mais clínicas de natação, o que é bom, e mais pessoas têm tentado aprender a nadar. De um ponto de vista de saúde, é muito bom. Se isso vai se torná-la uma das nações de elite da natação, deve levar mais anos”, apostou. A história pode mudar caso saia uma medalha em Kazan. A final dos 100 m peito, caso Alia avance, será disputada nesta terça-feira (4).