SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ONG Minha Sampa realizou na manhã desta terça-feira (13) um protesto na avenida Paulista, na região central de São Paulo, contra o governador Geraldo Alckmin (PSDB).
O público que passava pela avenida, em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo), entregava o prêmio “Torneira Seca” a dois manifestantes que estavam com máscaras do governador tucano.
A premiação acontece no mesmo dia em que Alckmin receberá da Câmara dos Deputados, em Brasília, um prêmio por sua gestão frente à crise hídrica. O governador é um dos vencedores do prêmio Lucio Costa de Mobilidade Saneamento e Habitação que, segundo os deputados, visa reconhecer as iniciativas que buscam a melhora da vida dos cidadão.
Para receber o prêmio, o governador paulista foi indicado pelo deputado federal João Paulo Papa (PSDB-SP). Segundo Papa, Alckmin foi escolhido por causa dos avanços de São Paulo, nos últimos anos, para atingir a universalização do saneamento. Para o deputado, esses avanços estão acima da média em relação ao resto do país.
O Estado de São Paulo atravessa a pior estiagem dos últimos 85 anos. Agravada no início de 2014, a crise deixou à beira do colapso os principais reservatórios, enquanto diferentes bairros convivem com torneiras secas até 20 horas por dia.
O professor universitário Ivanil Nunes, 49, concorda. “É um escárnio com a população. Essa crise hídrica já era anunciada há muito tempo. Me sinto debochado”, diz o morador da Barra Funda. De acordo com ele, seu prédio precisou desenvolver um sistema de captação da água da chuva para lidar com a redução de pressão da água que chega nas torneiras.
A servidora pública Cleide Napoleão, 62, se animou com a manifestação. “Pago muito e recebo pouco. Depois das 15h, a torneira começa a secar, e olha que moro em Pinheiros, bairro nobre. Já perdi três chuveiros, porque a resistência queima quado passa pouca água.”
A assessoria de comunicação de Alckmin não confirmou se ele foi a Brasília para receber o prêmio. Um dia após a indicação, contudo, Alckmin havia confirmado que aceitaria o prêmio. “Modéstia à parte, é merecido”, disse o gestor, na ocasião. A ONG disse ainda que também irá para Brasília para “prestigiar” a entrega do prêmio ao tucano.
CONTROVÉRSIA
Apesar do prêmio, a gestão da água em São Paulo recebeu, desde o início de 2014, diversas críticas de especialistas e entidades. Para o presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu Guillo, faltou planejamento na condução da estiagem que ocasionou a crise.
A tese é compartilhada por relatórios do Tribunal de Contas do Estado que apontam que o governo do Estado tinha indícios de que uma forte seca atingiria São Paulo. Segundo especialistas do meio acadêmico, o governo estadual demorou para tomar iniciativas de enfrentamento à escassez de água.
Um dos antigos críticos ao governo é o atual presidente da Sabesp, Jerson Kelman. Antes de ser escolhido para o cargo, ele havia criticado a demora do governo estadual em adotar medidas antipopulares que pudessem frear o consumo de água da população, como a adoção de uma tarifa mais cara para consumidores que aumentassem o consumo de água.
A tarifa foi adotada um ano após o começo da crise, após a reeleição de Alckmin. Embora tenha instituído a sobretaxa, o governo estadual não foi capaz de ao menos fazer a lição de casa. Isso porque três prédios centrais da administração do governo do Estado foram flagrados consumindo mais água do que deveriam.
No último dia 30, o governo entregou, com quatro meses de atraso, uma obra de interligação que levará água do cheio reservatório do Rio Grande (braça da represa Billings) ao crítico Alto Tietê (manancial no extremo leste da região metropolitana).