MARIANA HAUBERT
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O senador Lindbergh Faria (PT-RJ) provocou uma discussão no plenário do Senado na terça-feira (24) ao provocar diretamente o senador Aécio Neves (PSDB-MG) quando este fazia um discurso sobre a vitória do recém-eleito presidente da Argentina, Mauricio Macri, e tecia críticas ao governo brasileiro em relação ao seu posicionamento no Mercosul.
Em discurso, Aécio elogiou as recentes declarações de Macri sobre a possibilidade de usar a cláusula democrática do Mercosul para pedir a saída da Venezuela do bloco comercial devido à denúncias de violações de direitos humanos.
“O presidente eleito Macri já assume posições muito claras em relação a problemas sérios que temos vivido na região e que deveriam, pela liderança natural que o Brasil exerce na região, estar sendo defendidas pelo Brasil”, disse.
O tucano fez referência ainda a mudanças que considera importantes para o Mercosul e a externou a sua preocupação com as eleições parlamentares que serão realizadas na Venezuela no próximo mês.
“No momento em que o presidente eleito Macri ameaça utilizar a cláusula democrática do Mercosul, se houver qualquer dúvida em relação à lisura do pleito na Venezuela que se avizinha, ele torna ensurdecedor e constrangedor o silêncio da presidente da República [Dilma Rousseff] e da diplomacia brasileira”, disse Aécio.
Ele também elogiou o fato de Macri ter acenado para acordos comerciais com países de fora do bloco do Mercosul.
“No momento em que o presidente eleito Macri assina para a priorização nas relações comerciais com a União Europeia, da mesma forma com que fala também da necessidade de uma aproximação com a Aliança do Pacífico, ele vem, pouco a pouco, assumindo uma lacuna deixada na política e na diplomacia da nossa região pela omissão do Brasil em todas essas questões”, afirmou.
Assim que Aécio finalizou a sua fala, Lindbergh pediu a palavra e comparou as eleições argentinas com o pleito brasileiro do ano passado. O petista afirmou que, mesmo com um resultado mais apertado no país vizinho em relação ao que aconteceu no Brasil, o candidato derrotado, o peronista Daniel Scioli, não questionou a legitimidade da vitória de Macri.
“Não me consta, até agora, que o candidato Scioli tenha pedido recontagem de votos. Não me consta, até agora, que o candidato Scioli tenha falado em fraude eleitoral. Não me consta, até agora, que o candidato Scioli tenha falado em terceiro turno e impeachment. Eu acho que essa é uma lição importante”, disse o petista.
O governo brasileiro apoiou abertamente a candidatura de Scioli, tido como sucessor da ex-presidente Cristina Kirschner. Para Lindbergh, a vitória do oposicionista poderá trazer um retrocesso para o país vizinho mas será “importante” para que os brasileiros possam ver o que poderia acontecer no Brasil caso Aécio fosse eleito.
“Eu acho, senador Aécio, que, na verdade, o Macri vai ser muito importante, porque vai colocar a política neoliberal na Argentina. O Macri pode ajudar o Brasil, porque vai ser uma espécie de Aécio na Argentina. […] Acho que pode ser um bom espelho para alertar a população brasileira do que significa esse retrocesso na América Latina. É importante que eles governem lá, e queremos usar esse exemplo, porque tenho certeza de que o governo do Macri vai ser igual ao governo do Fernando Henrique, do Carlos Andrés Pérez, do Menem, vai ser um governo que vai fazer a regressão social e vai retirar direitos dos trabalhadores”, disse.
Aécio rebateu as críticas no mesmo tom de ironia e questionou: “É o caso de se perguntar, tenho certeza de que aqueles que nos assistem neste instante devem fazer a mesma pergunta, em que mundo está vivendo o Senador Lindbergh?”.
Já o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) afirmou que o petista estava “agourando um mal governo ao presidente que acaba de ser eleito”. “A derrota do Scioli subiu à cabeça do senador Lindbergh, porque ele chegou aqui com um ímpeto, com uma fúria, que mais lembra o kirchnerismo do que o petismo, embora haja muita semelhança entre os dois”, disse.