AGUIRRE TALENTO BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Após passar três horas sem responder a perguntas de integrantes da CPI do BNDES nesta terça (1º), o pecuarista José Carlos Bumlai abriu a boca ao fim da sessão para fazer um desabafo e reafirmar sua inocência. “Até meu nome trocaram. Meu nome é José Carlos, não é ‘amigo de Lula’. Este é meu nome”, queixou-se aos deputados. Bumlai disse que não poderia responder perguntas porque agora estava na condição de investigado, mas reclamou por ter ouvido “uma série de incriminações” dos parlamentares. “As pessoas vão ter oportunidade de ver que não são verdade. Eu tenho princípios, eu tenho normas, jamais me deixei levar por amizade de A, B ou C. A minha vida foi construída pelo trabalho, com muito suor, morando em porões. Trabalhando, construindo parte desse Brasil que ninguém aqui sabe”, declarou. Engenheiro de formação, tendo trabalhado por 30 anos na Constran, Bumlai afirmou que construiu a primeira linha do Metrô de São Paulo e a Ferronorte. Hoje pecuarista, Bumlai disse que foi dono do primeiro animal do país rastreado para exportação de carne. “Tenho minha consciência absolutamente tranquila e o tempo vai mostrar. Não privilegiei ninguém, não fiz isso nem aquilo, não tenho cor partidária, não sou filiado a nenhum partido político”, declarou. Bumlai disse que estava preparado para ter vindo à CPI e ter respondido às perguntas na semana passada. Seu depoimento estava previsto para a terça passada (24), mas, no mesmo dia, ele foi preso na Operação Lava Jato e levado para Curitiba. A suspeita dos investigadores da Lava Jato é que o pecuarista intermediou um empréstimo do banco Schahin para pagar uma dívida do PT e, em troca, teria conseguido que uma empresa do grupo Schahin obtivesse contrato com a Petrobras, para que o empréstimo nunca fosse pago. Ele afirmou que tinha recomendações médicas para não comparecer à CPI na semana passada e que, mesmo assim, foi até Brasília com essa intenção. “Eu deveria me internar na sexta-feira, [mas] eu falei ‘não vou fazer isso, porque vai parecer que fiz isso pra não ir lá [à CPI]'”. Bumlai ressaltou que quer “ter o prazer de um dia voltar” à CPI para poder dar explicações. A sessão terminou por volta das 18h. CELSO DANIEL O pecuarista foi convocado para explicar empréstimos do BNDES a suas empresas, por causa de suspeitas de favorecimento. Questionado por deputados a respeito, ele não respondeu. O BNDES nega as acusações e diz que seguiu as normas nesses empréstimos. Bumlai também não respondeu às perguntas sobre sua relação com o lobista Fernando Baiano e com o ex-presidente Lula. Um dos momentos mais tensos da sessão foi a intervenção da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), cujo pai, Luiz Alberto Gabrilli, ela diz ter sido alvo de extorsão em Santo André (SP) na época do então prefeito petista Celso Daniel, assassinado em 2002. Mara pediu a Bumlai que fizesse uma delação premiada para esclarecer a morte do ex-prefeito. Isso porque há suspeitas de que o empréstimo obtido por Bumlai junto ao banco Schahin tenha servido para comprar o silêncio de um empresário que chantageava Lula sobre o caso do assassinato. Mara Gabrilli afirma que seu pai, empresário do setor de transportes, era alvo de uma “quadrilha” que extorquia essas empresas -o empresário Sergio Gomes da Silva, o Sombra, foi condenado recentemente sob acusação de integrar essa quadrilha. “Eu espero lá em Curitiba que o senhor faça delação premiada e dê nome aos bois. Não venha com essa historinha que o senhor pagou dívida com embrião”, disse a Bumlai, que permaneceu calado. Bumlai argumenta que o empréstimo foi pago ao grupo Schahin com embriões de gado.