Sempre fui a favor de um futebol que na prática não existe e dificilmente existirá um dia: o futebol verdade. Seguindo naquele meu otimismo incorrigível, penso que a experiência de viver o futebol seria mais verdadeira e muito mais intensa se a honestidade balizasse todas as ações do nosso querido esporte.

Não só a honestidade no mais fiel sentido da palavra, mas também a franqueza de ir aos microfones sempre que necessário para dizer: Eu errei. Por exemplo, o presidente do Coritiba, Rogério Bacellar, tinha a obrigação de fazer isso após demitir o diretor de futebol Valdir Barbosa nesta terça-feira e manter o técnico Gilson Kleina no cargo.

Esse simples gesto seria simpático, soaria sincero (mesmo que não fosse) e daria a Bacellar lastro para uma mudança de curso que poderia conduzir o time por mares mais calmos. Apesar de não ter os inúmeros vícios dos presidentes profissionais, o atual mandatário Coxa erra justamente onde tantos outros já erraram.

Seu principal equívoco, bastante comum no dia a dia do futebol, é ter pouca convicção em suas decisões. Isso tem sido uma marca de sua administração. Quase nenhuma das decisões tomadas no Coritiba desde o início do ano passado tem a cara de Bacellar. Salvo questões administrativas de menor impacto, é difícil para o torcedor identificar a mão de seu presidente em questão cruciais como a demissão de Fulano ou a contração de Beltrano. Sempre tem alguém aconselhando/cornetando antes do seu despacho final. O resultado, via de regra, não tem sido dos melhores.

Podemos entender que a saída de Valdir Barbosa se deu pela avaliação negativa de seu trabalho, ou seja, os jogadores que foram contratados por sua indicação e a condução do departamento de futebol ficaram abaixo do esperado. Se esse foi o motivo, todas as negociações que estão em andamento devem ser suspensas, afinal era ele quem as comandava – com aval ou não do treinador.

Se não forem suspensas, a pergunta que fica é: Quem é que indica os potenciais reforços? Se eles têm o aval do treinador e as contratações foram determinantes para a demissão de Barbosa, porque o Kleina não foi demitido junto? Se eventualmente eles não têm culpa, a culpa é de quem?

Jogar limpo, ser transparente nessa hora, é a chave do negócio. Pena que o CEO do Coritiba Maurício Andrade não tenha simpatia e traquejo para se comunicar com a imprensa.

Se a contratação de Valdir Barbosa foi um erro, o torcedor espera desculpas e soluções para o problema. Errar ao apostar em Valdir é compreensível, tentar mascarar o erro com desculpas esfarrapadas evidencia problemas na gestão do clube.

Não vejo o menor problema em trocar um funcionário que não corresponde às expectativas, mas a mesma regra que se aplica à busca por reforços para o time, se aplica quando o alvo é um diretor de futebol. Se o trouxeram, foi pelas suas qualidades. Se ele não demonstrou tais qualidades, o erro foi mais de quem o trouxe, do que quem foi trazido. É preciso sabedoria para reconhecer, atribuir e admitir a culpa pelas decisões que afetam diretamente os resultados do time e o dia a dia do torcedor..

 Eduardo Luiz Klisiewicz é curitibano, jornalista, radialista e empresário.