A votação favorável a saída do Reino Unido da União Europeia no plebiscito realizado no último dia 24 produzirá diversos impactos na Europa e no cenário internacional. O Euroceticismo (descrença em relação a União Europeia), sempre foi uma característica do Reino Unido, que tardou a solicitar sua entrada no bloco (que ocorreu apenas em 1973, dezesseis anos após a criação da Comunidade Econômica Europeia). A ascensão dos movimentos de extrema direita no Reino Unido e o forte nacionalismo dos britânicos contribuíram para o aumento da resistência ao projeto europeu, que culminou na convocação do Brexit (plebiscito).
Embora a votação seja recente, o Reino Unido só sairá da União Europeia após dois anos a partir dessa decisão, conforme previsto pelo art. 60 do Tratado de Lisboa. Deste modo, ainda é cedo para analisar os reais impactos dessa retirada no bloco. Os Acordos firmados pelo Reino Unido por meio do bloco europeu deixarão de ter validade depois desses dois anos. Nesse caso se inserem os Acordos de livre circulação e residência de nacionais europeus no Reino Unido. Isso terá, certamente, um grande impacto sobre o fluxo de imigrantes e inclusive de investimentos europeus no país, o que irá abalar profundamente as relações econômicas entre o Reino Unido e os demais participantes do bloco.
Por sua vez, a economia britânica será fortemente chacoalhada, em termos comerciais e financeiros. Isso ocorre porque, mesmo que o Reino Unido não faça parte da zona euro, a participação na União Europeia implicava em eliminação de barreiras comerciais entre os países membros, como impostos alfandegários e de restrições a circulação de capitais. Desta forma, a saída da União Europeia irá afetar os negócios entre os países membros da União Europeia e o Reino Unido. Ademais, os Estados Unidos já afirmaram que priorizarão as negociações com a União Europeia.
Sobre o próprio Reino Unido, pode-se esperar um ressurgimento da pauta separatista da Escócia e da Irlanda do Norte, que são pró-União Europeia e se mostraram descontentes com o resultado do plebiscito. É provável que esses países convoquem plebiscitos para julgar a separação do Reino Unido e no caso da Irlanda do Norte, uma incorporação a Irlanda.
O principal ganhador da saída do Reino Unido é o conservadorismo. Análises comprovam que o eleitorado que votou sim à retirada do Reino Unido do bloco tem o seguinte perfil: uma faixa etária mais elevada, com menor formação escolar e com maiores traços de conservadorismo. Portanto, um dos principais efeitos desse resultado é a expansão do movimento conservador na Europa, que vem se consolidando em outros países da União Europeia, como a Hungria, França e Alemanha e traz junto com ele protestos contra imigrantes e refugiados. Assim, eventuais plebiscitos podem ser convocados em outros países membros da União Europeia, como Holanda e França, onde os partidos de extrema direita tem ganhado força. Isso se mostra um grande golpe à União Europeia, que aprofundará a crise política que vive o bloco, acentuada pela entrada massiva de refugiados na Europa. Assim, a xenofobia pode se expandir na Europa, contra os imigrantes de modo geral, que parecem ser um dos grandes perdedores desse resultado.
Em suma, neste momento, é difícil fazer projeções ou apostas sobre a questão, mas, seguramente haverá, diversos perdedores com essa retirada do Reino Unido do bloco e profundas mudanças políticas e econômicas na Europa e na geopolítica internacional.

Ludmila Culpi é professora de Relações Internacionais e Ciência Política no Centro Universitário Internacional Uninter. Mestre em Ciência Política e doutoranda em Políticas Públicas