KLAUS RICHMOND
SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – Depois do temporal e ressaca em Santos (SP) que inundou carros e arrastou trailers neste domingo (21), moradores de prédios do bairro da Ponta da Praia se ressentem por não terem conseguido remover os carros atingidos pelas águas.
O forte temporal, com ventos de 82 km/hora e elevação da maré que chegou a 2,6 metros na madrugada, atingiu o bairro entre domingo e madrugada de segunda. E, como estava previsto, o temporal voltou a se repetir no fim da tarde desta segunda, com a água do mar já invadindo a avenida Bartolomeu de Gusmão.
Segundo balanço inicial da Defesa Civil dos municípios da Baixada Santista, há entre 60 e 80 carros que ainda estão submersos ou motos que foram arrastados. Dois trailers foram invadidos pela água, além de um contêiner de construção civil. Não há pessoas feridas nem desabrigadas.
Em um dos prédios da orla, os veículos na garagem estão cobertos da água do mar, e guinchos não conseguem alcançá-los. A engenheira aposentada Maria Cristiana Peres perdeu dois veículos que ficaram totalmente inundados: o principal deles um Ford Ecosport, “praticamente novo”, como define, pelo pouco uso.
“Sou de São Paulo, tenho apartamento em Santos, mas já estava indo para o litoral norte. Estamos com toda a bagagem e documentos afundados. Agora sequer temos como sair”, disse.
No prédio dela, de 15 andares, cinco carros estão completamente cobertos pela água. Segundo a moradora, nem a sirene de emergência para avisar os moradores em casos como esse funcionou.
“Em 47 anos que vivo aqui, nunca vi nada nem parecido. Ficamos assustados, a água começou a entrar por toda a garagem”, diz a aposentada Maria Helena, 74 anos, proprietária de uma casa, que conseguiu tirar o seu carro e sair do local.
A casa, no entanto, teve somente o seu quintal avariado, mas com problemas superficiais. Mesma sorte não teve um dos clubes também localizados na orla da praia, Vasco da Gama, com 27 carros totalmente submersos, que precisou contratar uma empresa de piscinas para drenar a água.
Wellington Borges, 29 é dono de um trailer de lanches na Ponta da Praia que ficou inundado. Ele entrou em desespero ao ver que o patrimônio que herdou de seu pai havia tombado pelas fortes águas e se encontrava em meio ao asfalto. O prejuízo contabiliza duas geladeiras perdidas e toda a parte de alimentação.
“Vi o meu patrimônio jogado na rua, fiquei muito assustado”, conta. O trailer já foi recolocado em seu lugar com auxílio de funcionários da Defesa Civil da cidade.
Os trabalhos de limpeza seguem sendo feitos por equipes da prefeitura da cidade, que já recolocaram 20 toneladas de pedras no mar para tentar conter a força das águas.
Foram retirados, também, 45m³ de areia e 15m³ de mureta de proteção que foram destruídas. O trânsito segue bloqueado em uma das pistas.
RESSACA
Segundo o Centro de Hidrografia e Navegação da Marinha, a ressaca marítima ocorre quando as ondas chegam à costa com uma altura igual ou superior a 2,5 metros.
A ressaca foi provocada por fortes ventos gerados por uma frente fria que atingiu o litoral no sábado (20), segundo a Marinha. Em alto mar, as ondas chegaram aos 5 metros.
A frente fria acontece quando há um avanço de uma massa de ar frio vinda de regiões polares para regiões de latitudes mais altas. Ela provoca o deslocamento do ar mais quente e úmido para cima, formando nuvens do tipo cúmulos-nimbos, conhecida como “nuvem dos temporais”. Esse tipo de formação gera ventos fortes e chuva. Com a subida do ar quente, o ar frio é empurrado para baixo, criando as rajadas de vento.
A ressaca ainda foi agravada, segundo a Marinha, pela maré alta de Lua cheia, conhecida como maré sizígia.
A maré sizígia ocorre durante as Luas cheia e nova. Nesse período, a Lua e o Sol exercem sua força gravitacional ao mesmo tempo sobre a Terra, fazendo com que o mar avance mais sobre a costa.
Segundo a Marinha, a ressaca deve continuar até 9h de terça-feira (23), mas com menor intensidade.