SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de ausente na cerimônia de premiação, o Nobel de Literatura Bob Dylan enviou um discurso à Academia, lido pela embaixadora dos EUA na Suécia, Azita Raji, no banquete dos laureados, em Estocolmo. No texto, ele afirma que o prêmio é algo que ele jamais poderia imaginar ou prever. “Desde muito novo, conheço e leio e absorvo os trabalhos dos que foram contemplados com tamanha distinção: Kipling, Shaw, Thomas Mann, Pearl Buck, Albert Camus, Hemingway. […] Juntar-me aos nomes dessa lista realmente está além das palavras”, escreveu Dylan.

Ele também relata como se sentiu quando recebeu a notícia de que havia sido o vencedor do Nobel, em outubro, quando estava na estrada, em turnê. Depois de um tempo digerindo a notícia, Dylan narra que começou a pensar em William Shakespeare, que, na condição de dramaturgo, nunca assimilou o pensamento de que fazia literatura. Suas palavras eram escritas para o palco, feitas para serem ditas, não lidas. Afinal, tinha outras coisas para pensar, tais como quais eram os melhores atores para os papel de Hamlet ou se a trama deveria mesmo se passar na Dinarmarca. “Mas com certeza nunca se questionou se aquilo era literatura”, escreve Dylan.

Na sequência, o músico se compara ao dramaturgo. “Assim como ele, fico pensando: ‘Quem são os melhores músicos, estou no estúdio de gravação certo?. […] Algumas coisas nunca mudam, mesmo em 400 anos. Jamais tive o tempo de me questionar: ‘Minha música é literatura?'” Depois, agradeceu a Academia pelo tempo dedicado à questão e, finalmente, por prover uma resposta tão maravilhosa a ela. Mais cedo, a amiga Patti Smith pediu desculpas pelo nervosimo e cantou “A Hard Rain’s A-Gonna Fall” A Academia Sueca divulgou o discurso na noite de ontem em seu site.