PAULO SALDAÑA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após uma série de escolas privadas de São Paulo cancelarem as aulas de sexta-feira (28) por causa da adesão de professores ao chamado de greve geral, um grupo de 14 alunos do colégio Santa Cruz, tradicional instituição da zona oeste de São Paulo, divulgou carta defendendo a reforma da Previdência.

A carta é endereçada aos professores da escola, que, ao expor a adesão à paralisação, haviam divulgado texto criticando as reformas do governo Michel Temer. A carta foi divulgada pelas redes sociais. Nela, os estudantes dizem reconhecer “o direito à greve e à livre manifestação de ideias”, mas questionam o posicionamento contra a reforma. Outras escolas tradicionais, como Palmares, Equipe e Lourenço Castanho, também cancelaram as aulas.

A decisão dos professores de escolas particulares cruzarem os braços tem provocado um intenso debate entre alunos, pais e a direção das unidades. A legitimidade de esses profissionais entrarem em greve tem sido questionada, mas a discussão expõe ainda mais as posições antagônicas entre apoiadores e críticos das medidas.

Os professores do Santa Cruz, em seu texto, haviam defendido que as propostas, citando sobretudo a reforma trabalhista, podem “acentuar sistemas mais já excludentes”. Na resposta dos estudantes, eles dizem que “defender políticas públicas pautadas em ideais de ‘justiça’ e ‘defesa dos mais pobres’ é meio caminho andado para a irresponsabilidade fiscal”. “[O rombo da Previdência] impede tanto a estabilidade fiscal como maiores investimentos em outros setores. Em um país que, falando de Previdência, estão postas duas opções, a reforma proposta pelo governo ou o sistema atual, defender a segunda opção é usar o discurso da defesa de direitos para, na realidade, defender privilégios.”

RELAÇÃO

Pai de dois alunos no Santa, o engenheiro Marcelo Schaeffer, 44, diz que o episódio vai “estremecer” a relação entre famílias e professores. “Podia ser mais discutido antes. E os professores são contra, mas não propõem.” O médico Carlos Eduardo Barsotti, 37, vai analisar se quer os filhos na escola Stance Dual (centro) depois que leu a carta dos docentes. “Mostrou um viés de esquerda da maioria dos professores, sem outras visões”, diz ele, que apoia as medidas. Já a pedagoga Juliana Leodoro, 34, apoiou os professores da Nova Escola (zona sul), onde estudam suas duas filhas. “A atitude mostra que os professores são cidadãos e que todos, inclusive os alunos, devem se manifestar quando entendem que seus direitos estão em risco”, diz. “E as aulas serão repostas.”