MARIANA ZYLBERKAN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No lugar de asfalto, um piso cimentado mais claro.
Uma alteração no projeto original de reforma da praça Ayrton Senna, no Paraíso, na zona sul de SP, tem impedido a volta de uma feira de orgânicos montada semanalmente no local desde 2012.
A obra, realizada em abril pela gestão João Doria (PSDB) por meio de doações de empresas, previa um pavimento mais resistente no entorno do monumento. Feito de asfalto.
No local, porém, foram instaladas placas de cimento na cor cinza que, segundo o secretário de Esportes, Jorge Damião, não aguentam o peso dos caminhões que abastecem a feira –agora organizada na rua em frente à praça.
“Os veículos têm carga grande, o que aceleraria a deterioração das juntas no concreto, que vai se moldando aos poucos”, diz Damião.
O secretário afirma que o asfalto não foi previsto na obra em nenhum momento.
O uso do material, porém, é indicado no projeto assinado pelo arquiteto Benedito Abbud, que doou o desenho avaliado em R$ 50 mil à administração. “Deve ter sido no começo [do projeto], mas eu nunca sentei em uma mesa para discutir sobre asfalto. Nem caberia asfalto ali, ficaria feio”, diz Damião.
O escritório de arquitetura informa que o aspecto técnico da obra é de responsabilidade da empresa que a executou. Segundo o secretário de Investimento Social, Claudio Carvalho, que coordenou as obras, a previsão de asfalto realmente existiu, mas foi descartada para deixar a praça mais bonita e evitar transtornos, como superaquecimento do solo em dias de calor.
“A feira é importante e pode ser feita em local a cerca de 40 passos do local original.”
A prefeitura contratou uma empresa de construção e depois repassou as notas fiscais das obras para as doadoras.
A reforma foi feita a toque de caixa, e a prefeitura comemorou a entrega em tempo recorde, em cerca de um mês. A inauguração aconteceu no dia 1º de maio, data do 23º aniversário de morte de Senna.
BARRACAS
Desde o início da reforma, a feira do Modelódromo, que reúne cerca de 30 barracas, tem sido realizada todo sábado na rua Curitiba, em frente à praça. Mas os feirantes reivindicam a volta ao lugar original. Segundo eles, foram investidos R$ 88 mil para adequar as barracas às exigências da prefeitura para poderem retornar à praça, como bancadas novas de alumínio e padronização dos toldos.
“Se soubéssemos que o piso não aguentaria, não teríamos investido tanto. Para não perder mais dinheiro, estamos dispostos a contratar carregadores. Não faz sentido prejudicar mais de 30 famílias por um piso bonito”, diz Rachel Soraggi, que vende café.
A secretaria sugeriu mudar a feira para uma área a cerca de 30 metros do ponto original, dentro do complexo da praça, onde funciona um modelódromo –ponto para encontro de apreciadores de miniaturas de aviões, barcos, carros etc. A proposta ainda não foi aceita pelos feirantes, que alegam falta de sombra e de visibilidade e o fim das vagas de estacionamento.
“Estamos procurando uma saída pacífica. O espaço nunca previu uma feira, que está lá precariamente”, diz Damião. “Ficou uma praça voltada para o lazer, a questão da feira ali não caberia por causa de sujeira e detritos [produzidos]”, continua.
Moradores do entorno e frequentadores se dividem sobre o assunto. Um grupo é contrário à permanência da feira na rua por causa do trânsito e do barulho. Um abaixo-assinado reúne 16 mil assinaturas a favor da feira na praça. A mobilização incluiu até a chef Paola Carosella, que publicou um texto em rede social.
A reforma da praça foi orçada em R$ 700 mil e foi uma das primeiras inaugurações da gestão Doria por doações de empresas privadas. O valor foi dividido entre o escritório de arquitetura Benedito Abbud, a concessionária de carros de luxo Agulhas Negras e a rede de lojas Pet Center, que doou R$ 250 mil para equipar a área para cães.
No site Transparência da prefeitura, só há o valor estimado doado pela Agulhas Negras (R$ 650 mil) e não o valor efetivo do contrato. A concessionária diz que foi responsável por parte da doação, e não pela reforma da praça.