NAIEF HADDAD
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A vida social influencia fortemente a longevidade das pessoas. Sendo assim, uma das razões principais para que as mulheres superem os homens em expectativa de vida é que elas cultivam os laços sociais, da infância à velhice, muito mais intensamente que eles.
Essa é a opinião da psicóloga canadense Susan Pinker, que realizou na noite desta quarta (6) a última conferência deste ano da série “Fronteiras do Pensamento”. O evento aconteceu no teatro Santander, na Vila Olímpia, em São Paulo.
Pinker já foi professora de universidades como McGill, em Montreal, no Canadá, e teve artigos publicados em jornais dos EUA, como “The New York Times”, e da Inglaterra, como “The Guardian”. Atualmente, escreve sobre comportamento em uma coluna no norte-americano “Wall Street Journal”.
A expectativa de vida no Canadá, país de Pinker, é de 84,1 anos para as mulheres e 80,2 para os homens. No Brasil, os números são mais baixos, mas também se verifica a distância: elas vivem, em média, 79,4 anos, e eles, 72,2. Em maior ou menor grau, essa diferença é detectada em quase todo o planeta.
Logo no início da sua fala, Pinker citou o exemplo da sua avó, que mantinha sempre à mão uma lista com nomes de pessoas para quem deveria ligar ao longo da semana. Ela se sentava ao lado de um pesado telefone preto e punha-se a bater papo com as amigas.
“As relações sociais protegem as mulheres”, afirma a psicóloga.
TÊTE-À-TÊTE
O telefone preto é um bom exemplo de integração social. No entanto, de acordo com Pinker, não há contato que contribua mais para a saúde do que o presencial.
O tête-à-tête, como dizem os franceses, libera uma série de neurotransmissores que trazem bem-estar e reduzem o estresse, segundo Pinker, autora de “The Village Effect: How Face-to-Face Contact Can Make us Healthier, Happier and Smarter” [O Efeito Vilarejo: como o contato face a face pode nos tornar mais saudáveis, felizes e espertos], livro de 2014 ainda sem tradução no Brasil.
Durante a conferência, ela citou um estudo coordenado por Juliane Holt-Lunstad, professora de psicologia da universidade Brigham Young, em Utah (EUA).
A equipe de pesquisadores enviou para dezenas de milhares de pessoas de meia-idade um questionário a respeito do estilo de vida. Eram perguntas sobre estado civil, hábitos alimentares, se bebiam ou fumavam, a frequência com que faziam exercícios, entre outros pontos.
Sete anos depois, os pesquisadores retomaram o contato com essas pessoas com o objetivo de entender quais comportamentos tinham interferido na redução do risco de morte. Uma das principais conclusões de Holt-Lunstad foi que as relações sociais afetavam substancialmente a expectativa de vida.
Para Pinker, “é preciso praticar a sociabilidade como se faz baliza. Só se aprende treinando”.
A psicóloga também citou estudo da neurocientista Elizabeth Redcay, da Universidade de Maryland (EUA), que mapeou as diferenças entre o que ocorre no cérebro quando há um contato pessoal e quando estamos diante de algo estático, como um tablet.
Redcay comparou as atividades de dois grupos: o primeiro estava envolvido em uma conversa sobre determinado assunto, e o segundo acompanhava um vídeo sobre o mesmo tema. Os integrantes do grupo inicial tiveram mais áreas cerebrais ativadas, como a associada a atenção.
REFEIÇÕES EM FAMÍLIA
Encerrada a conferência, Pinker respondeu a algumas perguntas do público.
Um espectador indagou a psicóloga sobre meios de reduzir o tempo que jovens e crianças dedicam aos jogos online.
Como passo inicial, ela sugeriu que os pais restabeleçam a tradição das refeições familiares pelo menos uma vez por dia. Segundo Pinker, este é um hábito cada vez mais incomum entre as famílias contemporâneas
Para ela, o desempenho escolar dos filhos tende a melhorar quando os pais tomam atitudes que reforcem a coesão familiar.