Franklin de Freitas

Os últimos meses foram de notícias preocupantes para os amantes de livros no Brasil. Em outubro do ano passado, mesmo mês em que a rede de livrarias Fnac fechou sua última loja no país (chegou a ter 12) e encerrou as operações online, a Livraria Cultura, com dívidas de R$ 285 milhões, pediu recuperação judicial. No mês seguinte, seria vez da Saraiva, com R$ 675 milhões a pagar, pedir o mesmo recurso.

Mas se algumas portas se fecham, outras parecem estar se abrindo para o mercado editorial. E a prova disso é que no Paraná, mesmo com todo esse cenário de crise, o número de livrarias não para de crescer, segundo apontam dados levantados pelo Empresômetro, do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), a pedido do Bem Paraná.

Em 2008, por exemplo, haviam 1.634 livrarias no Paraná, das quais 541 (33,1% do total) estavam em Curitiba. Hoje, já são 2.107 empresas do ramo no estado e 708 na Capital (33,6% do total), o que aponta para um crescimento de 29% no número de livrarias em todo o Paraná e de 30,9% apenas no município entre os anos de 2008 e 2018.

Apenas no ano passado, ainda segundo o Empresômetro, foram inaugurados 80 novos empreendimentos no estado (23 deles na Capital), enquanto apenas quatro empresas (uma delas em Curitiba) fecharam as suas portas. Já se considerado todo o período analisado 2008 a 2018), temos que nos últimos 11 anos foram inauguradas 854 livrarias no Paraná, enquanto 381 fecharam as portas (em Curitiba, 267 novas empresas surgiram e 100 deixaram o mercado).

Para Juarez Vidal, 48 anos, supervisor de varejo da Livrarias Curitiba, o cenário chega a ser surpreendente (por conta do momento que vive o setor), mas não exatamente inesperado. É que com a saída de grandes redes varejistas do mercado ou a redução de sua participação no setor, novas empresas, de menor porte, estão surgindo para surprir a demanda dos clientes.

“De certa forma a gente se surpreende, mas como acompanhamos o mercado vemos esses novos surgimentos. Aí tem duas situações: as grandes livrarias se concentram em capitais e grandes centros, o que deixa uma possibilidade de novos negócios em cidades menores, que ficam desprovidas de livrarias físicas para o consumidor visitar. E outro fator recente é essa diminuição ou saída de algumas redes, que acaba abrindo essa possibilidade para novos negócios, principalmente livrarias pequenas e médias”, comenta o especialista.

Gigante curitibana navega em águas calmas
Com mais de 50 anos de atuação e 29 lojas espalhadas por 16 municípios nos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo, o Grupo Livrarias Curitiba é um dos poucos gigantes do setor livreiro que hoje navega em águas calmas no mercado editorial brasileiro. Após registrar queda no faturamento em 2016 e empatar o resultado no ano seguinte, a empresa voltou a registrar crescimento na venda de livros no ano passado, com uma variação entre 5,5 e 6%.

“Conseguimos recuperar um pouco da dificuldade que enfrentamos nos últimos anos. Estamos enfrentando os desafios que todo o mercado tem enfrentado, mas temos buscado trabalhar muito com uma gestão sóbria e focada nos principais desafios que o segmento vem apontando”, aponta o supervisor de varejo do Grupo, Juarez Vidal, comentando ainda que a empresa mantém investimentos nos pontos principais do negócio.

“Continuamos investindo, trabalhando muito a questão de melhoria nos pontos de venda para apresentar lojas mais confortáveis, espaços mais atrativos para o consumidor, e focando na questão de atender a necessidade dos clientes, seja através de produtos ou serviços, investindo no atendimento. Assim conseguimos estar numa média do mercado”, detalha Vidal.

Venda de livros está em alta no país
Já deu para notar que não é só de más notícias que o setor livreiro viveu em 2018. E nos últimos dias, outra boa nova foi divulgada pela coluna Mercado Aberto, da Folha de S. Paulo, a qual apontou que houve um crescimento, tímido em termos de faturamento, mas ainda um crescimento, como tratou de destacar Ismael Borges, da Nielsen, entidade de pesquisa e análise do setor.

Os ventos que sopram pelo Paraná, inclusive, acusam a possibilidade de um futuro positivo. Uma das evidências disso é que uma das principais tendências editoriais, ao lado da literatura geral (romances), é a área de literatura infanto-juvenil.

“A gente vê isso com bastante alegria,. Percebemos que hoje os pais, cada vez mais, estão ficando atentos a essa questão da importância de trabalhar no desenvolvimento da leitura. Vemos isso tanto na questão da oferta de livros, com novos autores de títulos infanto-juvenil, quanto também essa conscientização maior das famílias”, comemora Juarez Vidal.