Funeral Blues

W.H. Auden

Parem os relógios
Cortem o telefone
Impeçam o cão de latir
Silenciem os pianos e com um toque de tambor tragam o caixão
Venham os pranteadores
Voem em círculos os aviões escrevendo no céu a mensagem:
“Ele está morto”

Ponham laços nos pescoços brancos das pombas
Usem os policiais luvas pretas de algodão.
Ele era meu norte, meu sul, meu leste e oeste.
Minha semana de trabalho e meu domingo
Meu meio-dia, minha meia-noite.
Minha conversa, minha canção.

Pensei que o amor fosse eterno, enganei-me.
As estrelas são indesejadas agora, dispensem todas.
Embrulhem a lua e desmantelem o sol
Despejem o oceano e varram o bosque
Pois nada mais agora pode servir.

(1. Se você lembrou de um filme ao ler este poema, está corretíssimo. Ele foi estrela em “Quatro Casamentos e um Funeral” – uma bobagem inglesa com Hugh Grant e Andie McDowell. Só assim para conhecer Auden. 2. Ah, a conotação homossexual no poema é evidente. O “Ele” de Auden está mais do que explítico. No filme também. 3. Donde já não se fazem mais diálogos subliminares como antigamente. Houve tempo em que a polêmica em torno de Rick e Louis – “esse é o início de uma bela amizade” – Casablanca era tão fervorosa quanto a que trata se Capitu traiu ou não Bentinho).