SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Conspirações de fraude em urnas eletrônicas, queda da Constituição, volta da CPMF e ideias saídas da campanha do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) são relevadas pelo empresário Aldo Leone Filho, sócio da agência de turismo Agaxtur, que vem tratando o noticiário político como “fake news”.

A alta do dólar, diz ele, não afeta suas vendas porque leva as empresas aéreas a fazer promoção. E o cliente busca destinos mais baratos.

Sem declarar preferência por nenhum candidato, Leone Filho estima que a ansiedade que tomou conta da economia tem data para acabar: após o segundo turno.

Ele diz ser contra a retomada da CPMF, mas não acredita que Paulo Guedes, o guru econômico de Bolsonaro, tenha realmente cogitado a iniciativa, como a Folha de S.Paulo revelou na semana passada. 

Guedes foi desautorizado pelo presidenciável no Twitter nesta sexta-feira (21).

 

PERGUNTA – Como o cenário eleitoral afeta seus negócios?

ALDO LEONE FILHO – O movimento não parou. Os aviões continuam cheios, ninguém para de comprar viagem. Me explica por que as companhias aéreas continuam fazendo promoção? A política está descolada do dia a dia do brasileiro.

P. – Estão fazendo promoção para segurar a demanda. Precisam voar com avião cheio porque o principal custo dolarizado, o combustível, subiu. Daqui a pouco não vão começar a cortar oferta?

AF – Isso tem data para acabar. Acaba daqui a 40 dias.

P. – A instabilidade acaba no fim da eleição? Mesmo considerando vitória de Bolsonaro ou Haddad?

AF – [Vitória] Da democracia. O que o povo decidir. Somos um país democrático, é aquele que for eleito, com o Congresso que for eleito. Quem vai eleger deputados e senadores somos nós.

P. – Bolsonaro já disse que contesta as urnas.

AF – Isso não existe. A culpa foi do outro [ex-presidente Lula], que está preso dizendo que poderia concorrer. Ninguém está respeitando a lei, o conceito. Os exemplos estão errados. O regime democrático tem de ser mais forte. Não interessa se vai ficar preso ou não, se a urna é falsa ou não. Cada Poder tem de decidir o que for da sua competência. Só queremos que a democracia prevaleça, não importa quem se eleja. O brasileiro vai se descolando disso.

P. – Como se descola?

AF – Ele viaja para um lugar mais barato. Se o dólar está alto, a companhia baixa o preço, e a gente começa a vender. Somos vendedores. Tem gente vindo na loja comprar passagem área para Miami e cruzeiro.

P. – Estão vendendo mais cruzeiro porque é mais barato?

AF – Lógico. O cruzeiro de uma semana começa em R$ 2.500 por pessoa com tudo incluso. Para Miami, só a passagem é R$ 2.500.  Não dá para comparar passagem pelo mesmo preço de uma semana inteira no navio. O passageiro que ia para a China vai fazer cruzeiro marítimo, vai para resort no Nordeste, mas não deixa de curtir férias com os filhos.

P. – Cresceu quanto a venda de cruzeiro?

AF – Subiu 50% o número de passageiros para agosto e setembro em relação ao mesmo período de 2017. É mentira se eu disser que tem mais gente indo para a Disney, gastando em dólar. Mas tem a Argentina, que está com passagem barata, além do consumo lá com comida e táxi.

P. – Como avalia esta eleição?

AF. – É mais uma de tantas que tivemos. A Agaxtur vai fazer 65 anos na semana que vem. Foram tantas crises e tantas eleições. O dólar foi a R$ 4 em 2015.

P. – Os empresários estão com medo de polarização?

AF – Não. É questão de expectativa. Aliás, de ansiedade. Lembra do bug do milênio? Diziam que ia acabar o mundo. Não acabou.

P. – Até aqui havia simpatia de parte do empresariado com Bolsonaro, atribuída à presença de Paulo Guedes em um eventual governo. Com esse ruído sobre Guedes retomar a CPMF, o que muda?

AF – Sou absolutamente contra CPMF. Tem tanta “fake news”, que nem sei o que é verdade.

P. – Em uma eventual vitória de Haddad, quais seriam os impactos nos negócios?

AF – Nada. Não tem diferença entre Haddad e Bolsonaro. Não sei por que as pessoas polarizam tanto entre esquerda e direita. Tem democracia. A não ser que a gente decida, então, que não tem mais Constituição. É isso que a gente quer?

P. – Foi o que general Mourão, vice de Bolsonaro, chegou a sugerir.

AF – A Constituição é inquebrável. Não dou bola. Para mim é tudo “fake news”. Sou a favor da democracia.

Democracia significa que um cara quando está preso não tem de entrar na Justiça para querer ser solto para participar de eleição.