Quem vê os programas de TV dos candidatos a cargos majoritários por vezes tem a impressão de que os concorrentes combinam os temas que vão abordar. Na verdade, as coincidências acontecem mais porque os programas são baseados em pesquisas, e centram suas atenções nos assuntos que mais preocupam os eleitores. Ontem, por exemplo, tanto o programa de Dilma Rousseff (PT) quanto de José Serra (PSDB) falaram da questão da saúde. A petista exibiu os avanços na área e afirmou que os problemas que persistem, como os hospitais lotados, acontecem porque esses hospitais hoje atendem desde os casos mais simples até os mais complexos. Prometeu ampliar o número de Unidades de Pronto Atendimento para desafogá-los. Já Serra questionou o fim dos mutirões de especialidades. E bateu duro na precariedade do atendimento nos hospitais federais. Como sempre, faltou apenas os dois dizerem de onde vão tirar o dinheiro para ampliar e melhorar os serviços. Até agora, a única perspectiva concreta é a da regulamentação da emenda 29. Que segue parada no Congresso, porque seu financiamento dependeria da criação de um novo imposto do cheque, agora apelidado de Contribuição Social sobre a Saúde (CSS), para substituir a extinta CPMF. Ou seja, as promessas, se cumpridas, vão custar mais aos contribuintes, e vão sair do seu bolso.
Na pele
Não foi só Dilma e Serra que falaram de saúde. Marina Silva (PV) conta que já foi atendida como indigente, e também teve acesso aos melhores médicos, portanto, conhece os dois lados da moeda. Meu compromisso com a saúde é pessoal, afirma.
Desce redondo
Trecho do jingle de Marina diz: eu sou marineiro. É. E a seleção do Dunga era de guerreiros e deu no que deu.
Porque me ufano
Tudo bem que marketing eleitoral não tem compromisso com a realidade. Mas não precisava exagerar. O que nos aguarda é uma nova era de prosperidade, vamos fazer do Brasil um dos melhores países do mundo, disse Dilma, no programa de ontem.
Fila
Ele veio primeiro, ela veio depois. Uma coisa leva a outra, vaticinou ontem o programa da petista, em referência mais uma vez, à Lula.
Memória
O programa de Dilma também fala que era uma vez um país que não tinha nenhum serviço público para urgências e emergências, e em seguida, apresenta a criação do SAMU. Esqueceram do Siate, criado muito tempo antes, no Paraná.
Teimoso
Eymael (PSDC) diz ter obsessão pelo desenvolvimento. E pelo jeito, também tem obsessão por se candidatar a presidente, mesmo sem nenhuma chance.
Enganação
Para piorar, o programa de Eymael ainda tenta enganar o telespectador. Disse que ele estaria ao vivo no programa da noite para responder perguntas. Ocorre que a legislação eleitoral exige que os programas sejam entregues às emissoras, com antecedência, e evidentemente, gravados.
Exemplo I
Levy Fidélix (PRTB) diz que nenhum desses três ou quatro candidatos que as pesquisas fajutas e a imprensa dizem que vão ganhar, não farão nada por vocês, porque são financiados por banqueiros. Só não fala quem financia ele mesmo.
Exemplo II
Fidélix também usa de fundo um quadro, de gosto duvidoso, do ex-presidente Jânio Quadros. Será que se eleito ele também vai renunciar?
Às favas
Com o candidato em queda livre nas pesquisas, o programa de Serra abandonou de vez a fase paz e amor do início da campanha. Exibiu depoimentos de populares com frases como a Dilma a gente não conhece direito, e eu não ponho muita fé na Dilma não. E depois de expor os problemas na saúde, apontou: com a Dilma a saúde não melhora.
Sensível
O problema da campanha de Serra continua sendo o candidato. O tucano tentando parecer sensível falando diretamente para as mulheres simplesmente não convence. Nem com voz meiga dizendo que vai ter um olhar muito especial para a mulher brasileira.
Esconde esconde
O programa tucano também usou o velho expediente de bater e esconder a mão. O trecho em que exibiu imagens de hospitais com problemas não tinha identificação, e o texto foi lido por um narrador.
Profissões
E continua o desfile de candidatos com seus nomes e profissões memoráveis: Chaveiro Galvão (PSol), Crevelin do Torno Móvel (PSol), Silveira Sarandi (PSol), Professona Nívia (PSol).
Contradição
O Partido Verde de Marina Silva se vende como moderno e progressista. Mas no Paraná, um dos candidatos a deputado federal da sigla, Maurílio, prega a diminuição da maioridade penal para 14 anos.