O termo que tem me causado maior ojeriza nos últimos tempos é o tal “correria”.
– Olha, já tenho a proposta daquele projeto que você me pediu, vamos conversar a respeito?
– Puxa, que legal. Podemos falar depois, estou numa correria.
– O que acha de nos encontrarmos esse fim de semana?
– Não dá, tá uma correria danada.
Tenho notado que as pessoas no geral se automatizaram na sua correria desenfreada, do velho efeito dominó “prá ontem”. Considero legítima a sua ocupação e em muitos casos, o acúmulo de tarefas, contudo, percebo que o padrão que a maioria tem para se sentir viva, útil e atuante é ser multitarefa (argh!). Não é à toa que a cada dia o número de doentes emocionais aumenta: a sobrecarga de ser o tempo todo e em tempo integral.
Isso se agrava com outro típico comportamento, o da procrastinação: de inverter a ordem daquilo que precisa ser feito antes do seu necessário; de querer e achar que perfeccionismo é qualidade e dali nada sai; de precisar da regra dita por terceiros e não ter controle da sua própria vida.
Um dos indicadores mais eficazes sobre o ritmo equalizado, é o corpo. Tudo é sinalizado por essa máquina perfeita e sincrônica, que recebe cada vez mais, doses cavalares de cortisol e adrenalina, produzindo o estresse crônico e até debochado em forma de “estressadinho ou estressadinha”.
Uma pausa é uma vírgula, às vezes até um ponto e vírgula. Não significa necessariamente que você vai parar, talvez, desacelerar ou simplesmente escolher com precisão ao que vai dar potência, sem pulverizar a energia de forma a se sentir pertencente a todos os lugares e paradoxalmente, a lugar nenhum.
Nesse mundo ditado por relatório de vida em forma de redes sociais, não aparecer significa quase um não existir. Mas há um movimento de quem está mais focado no ser, que adota a pausa social como pílula de sanidade mental. O real está nos bastidores, na produção e nessa fase de oxigenação e por vezes, fermentação dos projetos, sejam pessoais ou profissionais.
O corpo agradece, a mente ama e o coração pulsa mais forte, porque a direção é mais importante que a velocidade.
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*Ronise Vilela é criativa de Comunicação Afetiva, Jornalista, Escritora e Psicanalista Integrativa.
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