Mulher-Maravilha, o filme, estreia nesta quinta-feira (1) em Curitiba cercado por ansiedade.

De um lado, trata-se do primeiro filme em que uma heroína de história em quadrinhos é protagonista. Isso considerando-se esta seara de filmes iniciada com X-Men – O Filme, em 2000. Algumas personagens já deram as caras, como a mutante Jean Grey ou a dúbia Viúva Negra, mas sempre como coadjuvantes. Mulher-Maravilha é uma pioneira nesse sentido, ainda que já tenha aparecido em Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Aliás, ela foi pioneira também nos quadrinhos; criada em 1941 por William Moulton Marston, ela desafiava o estereótipo de mocinhas indefesas num tempo em retratá-las assim era a coisa mais normal do mundo.

Por outro lado, há uma ansiedade da Warner. Mulher-Maravilha é a cartada do estúdio para tentar salvar o universo cinematográfico dos heróis da DC Comics, que quase foi à lona com o criticado Batman vs Superman – e em seguida com o mais criticado ainda Esquadrão Suicida. A ansiedade é tanta que Mulher-Maravilha chega à telona um ano após Batman vs Superman. E prepara o terreno para Liga da Justiça, que traz a equipe de heróis da DC – por ora, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Aquaman e Cyborg – e estreia em novembro deste ano.

A diretora Patty Jenkins resolveu os dois problemas de ansiedade ao entregar um filme que equilibra ação e humor, além de valorizar a personagem, o maior ícone feminino dos quadrinhos de heróis. E a atriz israelense Gal Gadot consegue calar os críticos, que a achavam magra demais e renomada de menos para um papel de tamanho peso. Depois de vê-la no papel, não se pensa em outra atriz.

Mulher-Maravilha, como não poderia deixar de ser, conta a origem da personagem desde a Ilha de Themiscyra. A mãe dela, Hipólita (Connie Nielsen, de Gladiador), a rainha das amazonas, contou que forjou a menina Diana no barro e que um sopro de Zeus, o rei dos deuses da Grécia antiga, deu-lhe vida. As amazonas eram as guerreiras perfeitas por excelência, mas Hipólita não queria a filha nesse meio. Não teve escolha depois que um aviador, Steven Trevor (Chris Pine), foi resgatado por Diana e atrás dele havia um batalhão de soldados alemães da Primeira Guerra Mundial. A batalha entre amazonas e alemães torna-se emblemática ao mostrar flechas e espadas contra balas e morteiros. Como uma simbologia da perda da ingenuidade diante dos horrores da guerra.

Mas Diana tem esperança na paz e acredita na humanidade. Decide seguir ao lado de Trevor na batalha para deter o que acha ser obra de Ares, o deus grego da Guerra. Crê ela que, se matar Ares – e ela tem condições para isso –, o conflito acaba. É quando Diana toma posse das armas clássicas da Mulher-Maravilha: um escudo místico quase indestrutível, o laço da verdade, a tiara-bumerangue e a principal delas, uma espada “capaz de separar os elétrons de um átomo”. Os braceletes ela já tinha antes. Isso além das vestes em tons de vermelho e azul, num estilo que combina plenamente com uma guerreira grega.

A relação entre Diana e Trevor de Themiscyra rumo a Londres, de onde sairá a missão de guerra dos dois, dá um tom cômico ao filme. E o desenrolar da história expõe a inferioridade com que os homens tratavam as mulheres naquele começo de século 20. Diana só ganha respeito dos homens quando entra em ação – e ela arrasa nessas horas. Infelizmente, passados quase 100 anos, não parece muito diferente. É mais um motivo pelo qual o filme de Patty Jenkins merece ser celebrado. Afinal, quem precisa de uma Mulher-Maravilha? O cinema de super-heróis, que agora tem uma produção à altura de sua mais famosa heroína. A Warner, que consegue arrumar o terreno para Liga da Justiça. Pensando bem, todo o mundo precisa de uma Mulher-Maravilha.