Arquivo pessoal/Cristian Toledo – Cristian Toledo

Cristian Toledo, 41 anos, ainda tem o jeito de um garoto apaixonado por futebol. Nas arquibancadas dos estádios de Curitiba, naquelas conversas entre jornalistas, ele deixa escapar facilmente seu entusiasmo pelo esporte e pela profissão. Nesses diálogos informais, consegue misturar seu peculiar senso de humor com seu profundo conhecimento por futebol.

E não é apenas sobre futebol. Eu estava ao lado de Cristian Toledo na semana em que passou a valer a lei que obriga a execução do hino do Paraná nos estádios. Ele se levantou e cantou o hino inteiro, palavra por palavra. "Entre os astros do Cruzeiro, és o mais belo a fulgir"… Enquanto isso, os jornalistas 'normais', como eu e os demais, sofríamos para lembrar um trecho ou outro.

Eu também estava ao lado de Cristian Toledo em 11 de setembro de 2001, em um almoço do Prêmio Embratel de Jornalismo, em Curitiba, quando recebemos a notícia assustadora. Com o radinho no ouvido, Cristian foi atualizando os demais jornalistas sobre os detalhes da tragédia histórica nos Estados Unidos. E, ao mesmo, foi esbanjando seu conhecimento gigante. 

Gigante, aliás, é uma palavra que define bem o profissional e o ser humano Cristian Toledo. Um cara com capacidade enorme de entender, explicar e aprender algo novo a cada dia. Tudo com aquela mesma empolgação e com o coração gigante de um garoto apaixonado por futebol. 

Entrelinhas do Jogo — Como virou jornalista esportivo? Era sonho de infância ou acabou decidindo depois?
Cristian Toledo —
Desde que me conheço por gente que quero ser jornalista. Conta minha mãe que disse isso quando tinha cinco anos, mas tenho certeza de falar disso nas minhas lembranças mais remotas. Até cheguei a fazer vestibular para Direito (e passei), mas havia combinado com meus pais que se fosse aprovado em Jornalismo eu não faria os dois cursos. Deu certo.

Entrelinhas — Seus textos e comentários impressionam pelo conhecimento da história do futebol. E também por estar sempre atualizado com o futebol atual, que muda a cada dia. Como adquiriu isso? Cursos, livros, documentários? Qual o caminho para ser um “crânio” como você?
Cristian
— Eu lembro muita coisa, ainda tenho a memória afiada, sem precisar de Biotônico Fontoura… Mas tenho verdadeira paixão pela história, e acho que um de nossos papéis é proteger a história do nosso esporte, do nosso jornalismo, da nossa comunicação. Isso me faz seguir pesquisando, seguir buscando raridades (e a internet ajuda muito), e a cabeça ainda guarda tudo isso. E em relação ao futebol, não sou um estudioso tão profundo quanto ótimos jornalistas daqui (e nosso melhor exemplo nisso é o Guilherme de Paula) e de fora, mas tento ficar antenado, não perder as tendências táticas, estar sempre atualizado. E ler, ler e ler. Sempre e sem parar, sobre futebol e sobre tudo. Se eu pudesse dar um conselho, é a leitura obsessiva. De livros, jornais, “mídia física”.

Entrelinhas —  Outra marca impressionante da sua carreira é a habilidade em todos os meios de comunicação. Você brilhou na TV, no rádio, no jornal e na internet. Esse percuso estava nos planos desde a faculdade? Como foi essa adaptação a cada mídia? 
Cristian
— Desde os 15, 16 anos, tinha afunilado o interesse em ser jornalista de rádio. Tenho ainda paixão pelo rádio, adorava fazer e espero um dia retornar. E estava tranquilo nesse caminho desde o início da carreira, em 1996. Não imaginava escrever para jornal, até que em 2000 o Luiz Augusto Xavier me chamou para ser repórter em O Estado do Paraná. E adorei escrever, adoro até hoje. E também nunca imaginava trabalhar na TV, estava totalmente fora do meu radar. Quando vi, estava no canal 4 apresentando o Tribuna no Esporte em 2004.
Se eu fosse dizer o que planejei com o passar do tempo foi o salto de repórter para comentarista. Era um desejo que foi se concretizar só em 2011, quando o Marcelo Ortiz me chamou para a 98FM.
Cada mídia tem sua particularidade, mas todas elas nos obrigam a fazer jornalismo. Isso facilita muito na adaptação. Só que ainda tenho frio na barriga cada vez que vou aparecer na TV.

Entrelinhas — Qual o melhor momento que já viveu na carreira?
Cristian
— Tenho muito orgulho de ter sido o primeiro repórter a viajar para o exterior com os nossos três times. E também de ser setorista dos três times. Mas talvez o momento de mais emoção foi em 2017, quando participei de uma transmissão em rede nacional pela Globo, no Flamengo x Atlético da Libertadores. Falar pro país inteiro na principal emissora e ainda tendo o Júnior, um ídolo de infância, ao meu lado, foi sensacional.

Entrelinhas — Qual a melhor parte de ser jornalista esportivo?
Cristian
— É poder conhecer pessoas e lugares que você dificilmente conheceria numa vida “normal”. O acúmulo de conhecimento é maravilhoso.

Entrelinhas — No jornalismo esportivo a gente vive muitas aventuras. Qual o momento mais peculiar, bizarro ou curioso que já vivenciou?
Cristian
— Acompanhar a excursão do Paraná Clube à Ucrânia em 2002, no meio da Copa do Mundo, foi algo muito diferente. Assistimos lá a jogos do Brasil, e era muito engraçada a forma da narração deles – quando o jogador erra um chute, o narrador dava risadas, gargalhava mesmo.

Entrelinhas — E qual a parte mais difícil, mais complicada na profissão?
Cristian
— Infelizmente a falta de compreensão de algumas pessoas de que o nosso trabalho é informar e analisar, e não distorcer para um lado ou outro. Há quem não consiga entender que elogiar um time não significa automaticamente criticar o outro, ou vice-versa. E também o incessante questionamento “que time você torce?”, como se isso significasse uma vinculação plena do seu trabalho a uma pretensa torcida a algum clube.

Entrelinhas — As redes sociais provocaram mudanças no jornalismo esportivo e na sua maneira de trabalhar?
Cristian
— Mudaram a forma da gente encarar a relevância da notícia. Agora, isso se descobre instantaneamente, através dos comentários e de outras interações. Além de ser uma enorme fonte de informação, que precisa ser filtrada para que não sejamos vítimas das fake news. 

Entrelinhas — Você abandonou todas as redes sociais. Já teve problemas com os chamados 'haters'? 
Cristian
— Nada de anormal. Abandonei as redes sociais por uma questão pessoal, e por achar que minha vida não é um tema que eu precise tratar em público. Além disso, já expresso minha opinião na Tribuna e na RPC, e vez por outra no SporTV, o que penso sobre o nosso futebol – que é meu objeto de trabalho – está ali. 

Entrelinhas — Pergunta tema livre. Que pergunta faltou aqui que você gostaria de responder?
Cristian — Se me permite, Silvio, é mais um desabafo do que uma pergunta. Queria lembrar a todos que somos jornalistas, mas temos vida. Que temos que encontrar tempo para as pessoas que amamos e para nós mesmos. Que trabalhamos com esporte, mas não falamos o tempo todo sobre esporte. E que temos nossos problemas, por mais que sejamos as tais “figuras públicas”. Nem todo dia estamos bem. Não somos imunes às dificuldades, ao contrário do que muitos imaginam.

PERGUNTAS RÁPIDAS, RESPOSTAS CURTAS
Melhor jogador do mundo na história: Zico (dos que eu vi)
Melhor jogador do mundo na atualidade: Cristiano Ronaldo
Três melhores jogadores do futebol paranaense em toda história: Assis, Tostão, Adoílson (de novo dos que vi)
Três melhores jogadores em atividade em clubes paranaenses hoje: Wilson, Richard, Pablo
Melhor técnico do mundo na história: Telê Santana
Melhor técnico do mundo na atualidade: Jürgen Klopp
Maior time da história do futebol: Flamengo 1981
Maior time da história do futebol paranaense: Coritiba 89 e Atlético 2001 
Melhor jogo de futebol que já assistiu: Escolho o mais marcante profissionalmente, São Caetano 0x1 Atlético, final do Brasileiro de 2001

Clubes do coração: Nada a declarar
Ídolos fora do esporte: Armando Nogueira, Elio Gaspari, Clóvis Rossi
Esportes que já praticou: basquete, vôlei
Hobbies: Ler, viajar, jogar videogame
Locais preferidos em Curitiba: Além da minha casa? Parque Barigüi

Três melhores jornalistas esportivos brasileiros: Armando Nogueira, Juca Kfouri, Carlos Maranhão
Três melhores jornalistas esportivos paranaenses: Permita-me subverter um pouco a pergunta. Vou citar as referências profissionais da minha carreira: Carneiro Neto, Luiz Augusto Xavier e Marcelo Ortiz

Currículo:
Jornalista formado pela PUCPR, 41 anos. Trabalhei em alguns dos principais veículos de comunicação do estado do Paraná, entre rádios, TVs, jornais e portais de comunicação. Escolhido em 2012 o melhor comentarista de rádio do Paraná, em eleição promovida pela Associação dos Cronistas Esportivos do Paraná. Desde novembro de 2014 estou na RPC como comentarista e editor, com participação no Globo Esporte e no Bom Dia Paraná, além das transmissões do Campeonato Paranaense, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Copa Sul-Americana e Taça Libertadores da América. Desde maio de 2015 também atuo como comentarista dos canais fechados SporTV e Premiere, participando de programas e transmissões em rede nacional. Também sou coordenador de Esporte da Tribuna do Paraná, referência na cobertura de futebol em Curitiba.