É com tisteza que anunciamos que hoje morreu, André Matos, um dos principais representantes do heavy metal brasileiro. O cantor fundou as bandas Angra e Shaman e esteve na formação original do Viper. O baterista do Shaman, ex-Angra, Ricardo Confessori, e o baixista Luis Mariutti confirmaram a morte, causada por ataque cardíaco. O músico tinha 47 anos apenas.

Tive oportunidade de entrevistá-lo em 2008 quando estava lançando o primeiro disco solo “Time To Be Free” em show no extinto Ópera 1, em Curitiba. Segue a reportagem da época. Vá em paz André Matos. Ídolo da nossa adolescência!

“O trabalho foi bem coletivo, apesar de ser considerado uma banda solo”, afirma André Matos

O cantor ANDRE MATOS esteve em Curitiba no dia 20 de julho (domingo) para realizar show de lançamento do seu primeiro disco solo, chamado “Time To Be Free”. A apresentação aconteceu no Ópera 1 e contou com shows de abertura das bandas MINDFLOW e SEVEN SIDE DIAMOND.
O lendário cantor brasileiro de heavy metal estava acompanhado de seus antigos parceiros Luis Mariutti (baixo – ex-ANGRA e ex-SHAMAN), Hugo Mariutti (guitarra – ex-SHAMAN) e Fábio Ribeiro (teclado – ex-SHAMAN), além do guitarrista André ‘Zaza’ Hernandes e do prodígio baterista, Eloy Casagrande, de somente 17 anos de idade.
O ex-vocalista do ANGRA, SHAMAN e VIPER lotou a casa. O desempenho de sua banda agradou a platéia, que cantou todas as canções, inclusive as do último álbum.
Após realizar show com um set list baseado nas novas canções do disco solo, VIPER, ANGRA, VIRGO e SHAMAN, ANDRE MATOS recebeu o Whiplash no camarim para falar sobre a nova fase.

O novo disco é um trabalho solo. Este fator refletiu no processo de composição?

“Foi um trabalho bem coletivo. Apesar de ser considerado uma banda solo, jamais mencionaria como um projeto. Realmente é uma banda solo nos moldes da banda do Ozzy, do Dio. Mas o trabalho em si sempre foi coletivo. Isso é muito importante. O álbum saiu com mais alma, mais energia. É possível sentir verdade no que está sendo feito. Nunca houve intenção de impor a minha idéia acima dos outros, apesar de levar o meu nome. Todo mundo abraçou o trabalho da mesma forma. Contei com grandes parceiros para compor e executar o disco. Tanto do ponto de vista musical, como de produção. São grandes amigos e profissionais que se envolveram”.

O que pode ser destacado em “Time To Be Free” em comparação aos demais discos?

“O destaque é muito básico. O trabalho abrange todos os outros. É um disco que retoma todos os elementos do passado de uma forma propositalmente não repetitiva. A idéia é de que ele consegue se renovar dentro de elementos e influências que estavam aí, dentro de nossas carreiras. Não só da minha. É latente. O público percebe. É um disco que olha para o futuro, tentando fazer algo original”.

Como está a receptividade internacional?

“Lá fora está muito bem. Estou contente com o resultado. No Japão foi um grande sucesso. O álbum ficou em segundo lugar nas paradas de rock do país durante um mês inteiro. Foi um feito. Estamos sendo convidados para tocar no maior festival de lá. Na Europa, o disco foi lançado em mais de 20 países simultaneamente. Desde o Leste Europeu até os grandes países. Fizemos uma turnê promocional no continente, que pôde comprovar a boa receptividade do disco. O trabalho ganhou notas máximas nas maiores revistas, como ‘Metalhammer’ e ‘RockHard'”.

E o desempenho no mercado nacional?

“No Brasil é o disco mais vendido do segmento desde a data do lançamento. Não sei a contabilidade das cópias. Mas sei das vendas por causa dos rankings das revistas, dos sites e das lojas. O trabalho continua entre os mais vendidos desde dezembro, o mês em que foi lançado. Agora estamos testando o trabalho ao vivo. É muito legal fazer o show e perceber que o público canta as novas músicas. É o resultado que buscamos quando fazemos um álbum”.

O que motivou a colocar o seu nome na banda e não arrumar um outro nome?

“Eu já passei por três bandas de renome no cenário nacional e internacional. Realmente não faria sentido retornar com mais um nome de banda após a separação da última banda. Cairia em um descrédito, em primeiro lugar, por não saber se a banda duraria mais tempo. Todas as separações de bandas que aconteceram no passado tiveram um motivo para acontecer. Nunca fui uma pessoa acomodada no sentido de ficar repetindo uma fórmula que dá certo, apenas porque dá certo. Acredito na evolução da música. Hoje sou feliz por afirmar que todos nós evoluímos para algum lugar. A banda é a representação disto. Apesar de ter o meu nome na frente, é uma banda. Existe um espírito de banda até mais forte que as outras que levavam um nome. Outro motivo é a necessidade de causar um reconhecimento imediato do público. As pessoas já conhecem o nome e sabem o que esperar da música. Não fica uma incógnita”.

Com o trabalho solo foi mais fácil recomeçar?

“Sim. Não é um recomeço. É uma retomada. É claro que não sabemos como vamos nos posicionar diante do futuro. A realidade é levar o nome solo. É um ponto de não retorno. Chega um momento de sua carreira que você toma uma decisão drástica. Não foi fácil optar por essa posição. Foi necessária muita responsabilidade, mas agora sei que foi a decisão correta. Tenho uma grande sorte de trabalhar em um ambiente com companheiros que não geram qualquer tipo de disputa, ciúme, inveja. Selecionamos as pessoas que trabalhamos ao longo dos anos e chegamos a um resultado perfeito. Não tenho do que reclamar”.

Entrevista: André Molina, 2008