Catarina-0537

Foto: Renata Surian.

Perdi a voz, primeira vez na vida. Um marco em minha carreira de mãe. O médico perguntava: tem certeza que não fuma? Sim. Mas então é professora? Não, doutor. Eu grito com meus filhos.

Sei que estamos na era do diálogo, e o exerço religiosamente todos os dias. Todos. Cansa, às vezes.

Me dei conta de que posso estar excedendo a cota de palavras a serem negociadas com um ser de 3 anos justamente ao perder a voz. Afônica, sussurrei ao longo de dois dias e duas noites e os resultados foram fenomenais.

Para começar, minha filha também baixou a voz, acho até que parou de falar com voz de bebê. Cresceu.

Mas o principal se operou no meu coraçãozinho. De posse de poucas entradas de locução, selecionei muito bem o que ia falar. Posso garantir que metade do não dito era pura gordura, dava mesmo para queimar. Uma ou outra ordem silenciada entrou na conta da tolerância necessária, aquela tão difícil de exercer quando se tem voz. Uma calma aprendida à força.

Acho que todo mundo amadureceu um pouco aqui em casa enquanto eu tomava remédio para a garganta e sussurrava. Confesso que está difícil retornar ao normal. Vou continuar afônica para ver aonde isso vai dar.