Ontem (10), no Rio de Janeiro, a seleção brasileira perdeu a final da Copa América para a Argentina. Bem feito! (Imagem: Pixabay)

Em 2013, quando esteve no Rio de Janeiro, Francisco disse: “O Papa é argentino, mas Deus é brasileiro!” O tom jocoso do “Papa do fim do mundo” amenizou as tantas zoeiras que são feitas com “los hermanos”. Contudo, o placar do jogo final da Copa América confirmou Francisco: Deus é realmente brasileiro!

Pode até parecer piada que o autor da frase mencionada anteriormente venha do mesmo país de Di María, autor do gol que fez com que o Brasil amargasse um segundo lugar. Mas não é piada! Insisto: Deus é brasileiro!

A derrota para o eterno rival em uma final de Copa América mostra como Deus quer o povo brasileiro: diante de um cenário catastrófico, como o que estamos vivendo desde a eleição de 2018 e ainda mais agravado com a pandemia, uma vitória teria sido mais uma bomba de fumaça para tirar o foco de atenção do povo.

Na liturgia católica do último fim de semana, lemos na primeira leitura um trecho da profecia de Amós – talvez o profeta do Antigo Testamento que mais escancara e condena a injustiça que os poderosos do Reino de Israel cometiam contra os pobres. Amós, usando a linguagem popular, não teve papas na língua para denunciar os mandos e desmandos daqueles que usaram e abusaram do nome de Deus para usurpar dos miseráveis.

Não estaríamos diante de uma situação parecida? O Capitão insiste tanto em invocar o nome de Deus, mas para quê?

Para tentar se safar da culpa das rachadinhas e se livrar das acusações de propina na aquisição de vacinas? Para incitar o ódio de suas milícias reais e digitais? Ou talvez para abençoá-lo em seus passeios motociclísticos?

Invocar o nome de Deus, como tão claramente vaticina o profeta Amós traz como consequência o compromisso com a justiça. As atitudes e as ações do Capitão mostram que ele está comprometido com tudo menos com ela, com a justiça…

Mas em um Maracanã esvaziado a justiça foi feita: o Brasil perdeu! Não teremos Carnaval fora de época para comemorar a vitória da seleção, nem poderemos nos aglomerar nas ruas e praças para brindar mais um título conquistado.

Infelizmente – ou melhor, felizmente, teremos que continuar assistindo estarrecidos os depoimentos na CPI da covid que, até o momento, só comprova o que muitos já intuíam: sim, a morte de muitas e muitos é responsabilidade do Capitão e de seus comparsas.

Deus é verdadeiramente brasileiro porque não permite que este povo que vive abaixo do Equador não caia mais uma vez na tentação da frivolidade, mas assuma seriamente as consequências dos anos mais difíceis de sua história recente.

Que o Deus da justiça, sobretudo da justiça para com os empobrecidos e excluídos, tenha piedade do Brasil! E que cumpra o desejo do Capitão, afinal somente Ele o tirará da cadeira da Presidência da República! E que o cumpra logo!

* Pe. Matheus da Silva Bernardes é sacerdote e docente de Teologia na PUC-Campinas.