A Caaba é uma grande construção em formato de cubo e considerada pelos devotos do Islã o lugar mais sagrado do mundo e é localizada em Meca.  (Imagem: Pixabay)

Monoteísmo é o nome que se dá ao tipo de crença em um só Deus. O ser humano pré-histórico, por suas singularidades, era politeísta. Ou seja, acreditava em vários deuses: do sol, da água, da floresta, do tempo, dentre tantos outros. Ao longo que a complexidade de relações e estruturas sociais começaram a se desenvolver, houve uma migração gradativa do politeísmo para o monoteísmo.

Tal trajetória não invalidou ou inferiorizou as concepções do sagrado para a humanidade. Esta foi, certamente, uma evolução que acompanhou o ritmo do desenvolvimento racional, psicológico e social do ser humano. Afinal, engloba todo um contexto para que tenha ocorrido. Um elemento imprescindível para esta análise, certamente, é entender que o conhecimento acerca do mundo onde vive, da natureza e de si mesmo, fez com que o homem buscasse um ser supremo, superior a todos os outros “deuses” aos quais prestava culto, como uma resposta às suas inquietações sobre a origem e o sentido da vida, a razão da existência do mundo, dos fenômenos da natureza, da morte, da dor, do sofrimento e tantos outros aspectos variados…

Contexto do surgimento do monoteísmo

Podemos entender o monoteísmo como uma expressão de escolha não apenas racional, mas também de maior “lógica” quando o homem passou a compreender a vida e a natureza como obra da criação de um ser supremo, ou seja, de um só Deus, criador de todas as outras coisas e superior a todas as outras divindades existentes.

Certamente, é o respeito a este conjunto de elementos universais que contribuem a favor da justiça e da paz no mundo, uma vez que o temor a Deus e às suas leis respeita uma ordem eloquente de busca pela harmonia e fidelidade à vocação religiosa de quem adere à religiosidade monoteísta. De algum modo, o monoteísmo tem sido uma expressão de compaixão e conforto para a humanidade – embora religiosidades politeístas também tragam respostas relativamente interessantes sobre esse tema.

E é esta dimensão do monoteísmo vivido em sua essência que possibilita uma cultura de paz, de solidariedade, de respeito às diferenças e de diálogo para a humanidade. Afinal, ele engloba um conjunto de valores éticos universais que excluem radicalismos pautados na violência, na guerra, no abuso de autoridade ou da utilização da religião como forma de poder.

Principais crenças monoteístas

E então, ao analisarmos mais profundamente as subdivisões que compreendem o monoteísmo, podemos apresentar três religiões fundamentais que o compõe: judaísmo, cristianismo e islamismo. Cada qual tem sua doutrina, propostas de vida em sociedade e também características distintas e também que se assemelham.

O Judaísmo é a mais antiga das três religiões monoteístas. Sua maior característica doutrinária é a crença num Deus único e criador chamado “Adonai” (YHWH), a qual elegeu Israel como povo para receber a revelação da Torá (os mandamentos). Deus, segundo os judeus, influencia na sociedade humana e judeu é todo aquele que pertence a esta linhagem fazendo sua adesão a um pacto eterno com o Deus Único. A família é um forte elemento para o judaísmo, sendo que as tradições desta religião são passados de geração em geração com ênfase às suas leis em âmbito religioso e com observação de seus costumes e estilo de vida também no campo social, político e econômico. 

O Cristianismo é uma religião monoteísta que surgiu dentro do judaísmo, fundamentando-se na doutrina trinitária (existência de três pessoas distintas em um único Deus). Fundamenta-se nas Sagradas Escrituras, em especial no Novo Testamento, de onde ecoa a revelação de que “Deus é amor” e Pai de todos, apresentando Jesus Cristo como filho de Deus, membro da Trindade (2˚ pessoa) e exemplo de virtude a ser seguido. De acordo com a doutrina cristã, Cristo oi enviado ao mundo para salvar a todos de seus pecados, morrendo na cruz e, depois, ressuscitando (fato que se recorda na comemoração da principal data do cristianismo, que é a Páscoa, o que faz com que a cruz seja seu símbolo mais conhecido).

O Islamismo é uma religião monoteísta que surgiu na Península Arábica no século VII, baseada nos escritura sagrada chamada Alcorão e nos ensinamentos religiosos do profeta Maomé. Na visão muçulmana, o Islã surgiu desde a criação do homem: Adão foi o primeiro profeta e, o último, Maomé. Sua doutrina resume-se em acreditar em um único Deus (Alá), dando enfoque à oração, ao jejum anual no Ramadã e à peregrinação à cidade santa de Meca.  A ética do islã inclui instruções que norteiam e relacionam todos os aspectos da atividade humana: políticas, sociais e/ou financeiras, apresentando também uma radicalidade e simplicidade de dogma, com a proposta da existência de um só Deus, de uma só fé e de uma só comunidade.


Semelhanças e diferenças nas religiões monoteístas

As principais semelhanças presentes no judaísmo, no cristianismo e no islamismo seriam:

 

Judaísmo

Cristianismo

Islamismo

Fé em um só Deus

X

X

X

Nascidos na bacia do Mediterrâneo, pertencem ao Ocidente e têm vocação mundial

X

X

X

Herdam quadros conceituais da filosofia grega

X

X

X

Possibilita desenvolvimento de experiências e valores da vida a seus seguidores, no plano da teologia mística e da espiritualidade

X

X

X

Necessidade de integrar e resinificar costumes antigos, chamados “pagãos”

X

X

X

Passaram por discórdias e divisões internas

X

X

X

Há literalistas e fundamentalistas

X

X

X

As principais diferenças presentes no judaísmo, no cristianismo e no islamismo seriam:

 

Judaísmo

Cristianismo

Islamismo

O que lhe é mais importante?

Israel como povo

e terra de Deus

Jesus Cristo como messias e Filho de Deus

Alcorão como livro e Palavra de Deus

Livro Sagrado

Torá

Bíblia

Alcorão

O enviado de Deus é…

Ainda esperam a vinda de um Messias (judeu)

Jesus Cristo

Profeta Maomé

Forma de viver o monoteísmo…

Crença em Deus

Crença na Trindade e na Encarnação Divina

Crença em Deus como transcendência esmagadora

Quanto à Revelação

Deus se revela e age na história (pedagogia horizontal)

Deus se revela, age e nos convida ao Amor recíproco

Revelação Divina (apenas vertical)

Estes dados acima nos indicam que essas três religiões, por terem o berço na crença de um só Deus, são irmãs de fé (crença no Deus de Abraão), e possuem muito mais elementos que evocam semelhanças do que diferenças entre si. Aliás, é justamente por isso que são chamadas “religiões abrahâmicas”. Este, certamente, é um fator que pode contribuir de maneira primordial para superar os desafios que atualmente se apresentam para a manutenção religiosa do mundo onde vivemos, pautado pela negação de um transcendente.

Se as religiões monoteístas tem suas raízes em Atenas e Jerusalém, como interpretou a história antiga, onde Atenas seria símbolo do pensamento grego, da filosofia, e Jerusalém seria o lugar sagrado para elas, certamente poderiam adotar como terceiro elemento em comum a “cidade eterna” presente no coração e na alma de cada ser humano, que tem sede de Deus mas também tem sede de verdade, de justiça, de igualdade. Contudo, vale lembrar que cada grande escopo dessas principais religiosidades monoteístas também possui suas cidades oficiais: o judaísmo em Jerusalém, o cristianismo em Roma e o islamismo em Meca, na Arábia Saudita.

Indiferentemente do local físico, quando percebemos que existência da religião numa sociedade – ainda que seja uma ação que se julga vinda dos céus – não deixa de ser também uma ação humana, sujeita às contingências de fatores históricos, como qualquer outra ação, entendemos que a existência de Deus precisa estar muito mais ligada à vida do homem do que simplesmente pairando nos céus e nos dando ordens diretas lá de cima.

Enfim, a trajetória das religiões monoteístas ao longo da história demonstra isso, pois mesmo em meio a seus avanços e retrocessos comprova que a religiosidade é um importante horizonte de sentido para a humanidade.

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Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções.