WatersCapa
Foto: Franklin de Freitas

A Ligga Arena, localizada no bairro Água Verde, em Curitiba, foi palco de uma noite épica de rock neste sábado (4 de novembro). Aos 80 anos – completados no última dia 6 de setembro -, o músico Roger Waters fez um show intenso do início ao fim, adotando o tom político de sempre e apresentando os maiores clássicos de seus quase 60 anos de carreira, com canções da época de Pink Floyd e de sua trajetória solo.

“This is Not a Drill” deve ser a última turnê da lenda do rock e teve início com a famosa “pontualidade britânica”, às 21 horas. Antes do espetáculo começar, porém, todos foram avisados: “Se você é daqueles que diz ‘eu amo Pink Floyd, mas não suporto a política de Roger’, vaza pro bar!”. Recado dado sob aplausos do público, que num show no Couto Pereira, na véspera do segundo turno da eleição presidencial de 2018, teve de ver Roger Waters ser criticado e até vaiado por alguns curitibanos por se manifestar politicamente, fazendo críticas ao então candidato Jair Bolsonaro.

Cinco anos depois, a polarização política parece ter arrefecido ou então parte do público finalmente compreendeu que canções como “Pigs” e “Another Brick in the Wall” não falam sobre bacon e construção civil.

Temas como a guerra entre Israel e Palestina (e o que Waters definiu como o genocídio do povo palestino), a política internacional dos Estados Unidos e a violência policial (especialmente contra pessoas negras, com casos como o de George Floyd Jr.) foram alguns dos temas abordados pelo artista em meio ao espetáculo musical e cinematográfico. Via de regra, críticas acompanhadas de aplausos e exultações.

“Nunca estivemos tão perto da Terceira Guerra Mundial como atualmente. A última vez foi na Crise dos Mísseis com Cuba, na Guerra Fria. A diferença é que lá atrás [o presidente dos EUA] John Fitzgerald Kennedy conversava com Nikita Khrushchev [primeiro-ministro da União Soviética]. Joe Biden [atual presidente dos EUA] está conversando com Vladimir Putin? Por que ele não pega o maldito telefone e liga pra ele? Nós estamos próximos da terceira guerra mundial por causa de nossos líderes”, desabafou Waters, cujo pai, Eric Fletcher Waters, foi um oficial britânico do 8º Batalhão dos Fuzileiros Reais, morto durante a Segunda Guerra Mundial, quando Roger tinha apenas alguns meses de vida.

24 músicas e um espetáculo intenso do início ao fim

Falar sobre Roger Waters e dissociar a música da política é impossível. Mas é também necessário e fundamental falar sobre a música em si. E aí é preciso tirar o chapéu: o show de um dos fundadores de Pink Floyd é, simplesmente e no sentido mais pleno da palavra, um espetáculo.

Foram cerca de duas horas e meia de apresentação, com o show se dividindo em duas partes e tendo um intervalo de aproximadamente meia hora no meio.

A primeira parte começou com Comfortably Numb e trouxe ainda clássicos como Another Brick in the Wall, Wish You Were Here e Shine On You Crazy Diamond.

Waters também apresentou na primeira metade do show uma composição inédita, chamada “The Bar”, fazendo um convite aos espectadores: “Todos em Curitiba estão num bar comigo, onde podemos trocar opiniões sem sermos cancelados ou presos.”

Encerrando a primeira metade, outro clássico: a canção “Sheep”, que teve a “participação” especial de uma ovelha inflável pulando no meio do público e citações aos escritores George Orwell (autor de “A Revolução dos Bichos”) e Aldous Huxley (“Admirável Mundo Novo”).

As músicas foram tocadas praticamente uma atrás da outra, sem paradas. Isso até o intervalo para a segunda parte do espetáculo, que foi retomado com Waters amarrado numa cadeira de hospital enquanto cantava “In The Flesh” e com um porco inflável, que trazia a estampa de “The Wall”, passeando acima do público, com olhos vermelhos e os dizeres “Ele está louco, não escute ele” e “Você está contra a parede agora” nas laterais.

Na sequência, mais clássicos, com Run Like Helll, Money, Us and Them, e Brain Damage.

Na antepenúltima música, foi apresentado “Two Suns in the Sunset”, do álbum “The Final Cut” (o último trabalho de Waters com o Pink Floyd). A canção, explicou Roger Waters antes de tocar ao piano, era dedicada a Bob Dylan, Kamilah Chavis (esposa do músico britânico) e seu irmão, John, que faleceu no ano passado.

Ao final, muitos agradecimentos de Roger Waters ao público, com o artista muito emocionado ao lado dos outros nove músicos que fizeram com ele o espetáculo.

E que espetáculo, senhoras e senhores!

Veja a setlist completa do show de Roger Waters em Curitiba

Parte 1:
Comfortably Numb
The Happiest Days of Our Lives
Another Brick in the Wall, Part 2
Another Brick in the Wall, Part 3
The Powers That Be
The Bravery of Being Out of Range
The Bar
Have a Cigar
Wish You Were Here
Shine On You Crazy Diamond (Parts VI-VII, V)
Sheep

Parte 2:
In the Flesh
Run Like Hell
Déjà Vu
Déjà Vu (Reprise)
Is This the Life We Really Want?
Money
Us and Them
Any Colour You Like
Brain Damage
Eclipse
Two Suns in the Sunset
The Bar (Reprise)
Outside the Wall

Músicos no palco

Roger Waters nos vocais, guitarra, baixo e piano

Jonathan Wilson e Dave Kilminster – guitarra e vocais

Jon Carin – teclado, guitarra e vocais

Gus Seyffert – baixo e vocais

Robert Walter – teclado

Joey Waronker – bateria

Shanay Johnson e Amanda Belair – vocais

Seamus Blake – saxofone