Arquivo pessoal/Lycio Vellozo Ribas – Lycio Vellozo Ribas

O jornalista curitibano Lycio Vellozo Ribas conta nessa entevista para o Bem Paraná sobre o sucesso do Livro de Ouro das Copas, a mais completa publicação sobre a Copa do Mundo. Ele fala sobre curiosidades da competição para 2022, sobre casos ‘bizarros’ do passado e sobre a proposta para a competição ser a cada dois anos. E lista os jogadores mais subestimados e superestimados da história.

Bem Paraná – Você já lançou outros livros sobre as Copas do Mundo. O que há de novidade nesse lançamento?
Lycio Vellozo Ribas — Há diversas situações revisitadas de outras Copas, como a polêmica entre Argentina e Peru na Copa de 1978. Há mais times “temáticos”: um de jogadores novinhos (tem Pelé, Mbappé e Eto’o juntos no mesmo time), outro de marcas individuais. E vários dos times temáticos de 2018 mudaram de escalação. Didier Deschamps, por exemplo, passou para o time de “Jogadores-treinadores”, aqueles que jogaram uma Copa e depois foram treinadores em uma Copa. Tem também um capítulo só sobre goleiros. Além disso, tem os jogos da última Copa, na Rússia, e chama para o Mundial no Qatar, já com a pandemia e as peculiaridades de Itália e Rússia nas Eliminatórias.

BP — Os seus livros fazem muito sucesso com todas as faixas etárias. As crianças adoram. Um amigo contou que o filho dele dormiu abraçado com o livro no dia que ganhou. E os ‘veteranos’ elogiam bastante o conteúdo e o design. Como conseguiu atingir todos esses públicos?
Lycio — Creio que foi porque o livro atingiu um bom equilíbrio entre textos e parte visual, e por isso agradou a várias faixas etárias. Os textos são curtos e bem acessíveis para todos. Também é bem ilustrado, o design chama atenção. E os times temáticos, além de trazerem curiosidades curtas dos jogadores, estimulam a imaginação. Imagine um time com Messi, Maradona e Romário no ataque. O livro traz essa possibilidade.

BP — O que espera dessa Copa de 2022, que será inédita em vários aspectos?
Lycio — A começar pela época de disputa, no fim do ano. Pela primeira vez. E não foi por causa do adiamento de jogos na pandemia da Covid-19, foi por causa do calor no Qatar nos meses de junho e julho, que é quando normalmente ocorre a Copa. Lá faz um clima ameno em novembro, com temperaturas de uns 25ºC. Se fosse em junho, teria picos de 50ºC e aquela secura de deserto. Além disso, vai pegar a temporada europeia bem no meio. A tendência é que haja menos jogadores de fora por causa de lesões. Isso é aias comum no fim da temporada europeia, quando os jogadores estão bem mais desgastados. A logística no Qatar também deve influenciar, já que os estádios são todos perto um do outro. A distância máxima entre eles é de 60 quilômetros. Na Rússia ou no Brasil, tinha estádio a 3 mil km de distância do outro. Também haverá uma espécie de despedida. Vários jogadores de 33 anos ou mais, como Messi, Cristiano Ronaldo, Modric, Neuer e Benzema estarão talvez em sua última Copa. Aliás, tem seis jogadores com grandes chances de estar em uma Copa do Mundo pela 5ª vez: Messi, Cristiano Ronaldo, o zagueiro espanhol Sérgio Ramos, o goleiro Ochoa e o meia Guardado, do México, e Behrami, da Suíça. Até hoje, só quatro jogadores atingiram essa marca: o goleiro mexicano Carbajal (1950-1966), o alemão Lothar Matthäus (1982-1998), o goleiro italiano Buffon (1998-2014) e o mexicano Rafa Márquez (2002-2018).

BP – E em campo? Quem são os favoritos, na sua opinião?
Lycio — Pelos nomes que tem, a França. Parece mais forte que em 2018, já que tem o Benzema – que tem tudo para ser eleito o melhor jogador da última temporada europeia – no lugar do Giroud. Também não descarto a Argentina, que consertou diversos problemas crônicos dos últimos 15 anos, como a falta de um goleiro confiável e de um bom parceiro de ataque para o Messi. Vejo o Brasil com grandes chances. Não é um time que encante, mas é eficiente. E, fora as laterais, há bons jogadores em todas as posições. Inglaterra e Bélgica também têm boas chances de ir bem. Alemanha e Espanha estão se reconstruindo.

BP – Sobre a proposta para a Copa a cada dois anos? O que acha?
Lycio — Nem eu gosto, nem as federações europeias gostam. Parte do charme da Copa é ser exatamente a cada quatro anos. Com essa ideia, a Fifa está pensando apenas em dinheiro, não em qualidade do espetáculo. Fora que criaria um problema gigantesco para o calendário mundial do futebol, que já é apertado. Na Europa, as federações cogitam até chamar as equipes sul-americanas para disputar a Liga das Nações e, com isso, esvaziar a Copa caso ela seja a cada dois anos.

BP – Na história da Copa do Mundo, quais os jogadores mais superestimados, na sua avaliação?
Lycio — Considerando a fama e o que fizeram pelas suas seleções, um deles é o David Beckham. É um bom jogador, com uma bola parada extraordinária, mas nada além disso. Não driblava, não pisava na área, não cabeceava, não marcava, não era veloz, não corria tanto, quase não ajudava na defesa. Ele se segurou no Manchester United porque o time corria por ele. Em duas Copas (2002 e 2006), chegou como astro maior da Inglaterra e pipocou. Isso que já tinha sido expulso em 1998… Entre os brasileiros, cito o Leonardo, que jogou em 1994 e 1998. Um jogador de clube, bem longe de ser um craque de seleção.

BP – E os mais subestimados?
Lycio — Dos mais antigos, o Helmut Rahn, atacante da Alemanha de 1954. Quando se fala nessa Alemanha, fala que derrotaram a Hungria do Puskas, que foi uma surpresa, falam no Fritz Walter, mas o Rahn decidiu o jogo – que terminou 3 a 2 – com dois gols e uma assistência. E ele já tinha decidido a partida contra a Iugoslávia, nas quartas de final. Era um atacante ambidestro, rápido, forte, mas menos lembrado do que deveria. Dos mais atuais, dois que considero subestimados são o Thomas Müller, alemão, e o Angel Di María, argentino. São habilidosos, inteligentes, eles entendem a realidade de cada partida e sabem adaptar seu futebol às necessidades do jogo. Entre os brasileiros, o Dunga. Não que seja subestimado, mas carrega um certo ranço por parte do torcedor. Muita gente o vê como um volante brucutu, mas ele era bem melhor que isso. É um dos melhores passadores de bola da história. Em 1994, foi o jogador que mais acertou passes em uma Copa do Mundo (589) até ser superado pelo espanhol Xavi (599) em 2010.

BP – Das situações curiosas que ocorreram nas Copas, qual a mais bizarra?
Lycio — As Copas já tiveram muitas situações curiosas, como presidente errando o pontapé inicial, jogador machucando a cabeça em barra de ferro antes de entrar em campo, trave quebrando durante o jogo, rainha invadindo vestiário… Mas creio que a mais bizarra foi o sheik Fahid Al Sabah, que chefiava a delegação do Kuwait e invadiu o campo na derrota para a França, em 1982. Ele disse que tinha ouvido um apito apontando impedimento no 4º gol da França. E entrou em campo, acompanhado de vários seguranças armados. Mandou anular o gol. O árbitro, um soviético, não tinha apitado nada, acabou anulando o gol. Foi bem criticado por isso. Mas vai que um dos homens do sheik resolve sacar a arma…