Que me perdoem os coleguinhas bem-intencionados, mas tratar o depoimento de Lula como uma decisão do UFC ou final de Copa do Mundo só tem um nome: sensacionalismo. E, como tal, é um desserviço ao jornalismo sério – e à opinião pública. Começando pelas duas principais revistas do país, que no fim de semana estamparam capas comparando a audiência (parte corriqueira do processo) a um duelo de telecatch – no caso da Veja – e uma luta de boxe – como fez a Istoé.

Secretário de redação do Bem Paraná faz contraponto ao texto de Luigi. Leia aqui

Mas o clima de Fla-Flu contagiou, em maior ou menor grau, praticamente toda a grande imprensa – regional e nacional. Portais importantes forneceram uma overdose do assunto, com até oito fotos do ex-presidente na capa; a comparação com um duelo foi recorrente, e teve até quem publicasse manchete sobre o depoimento como final de Copa do Mundo em Curitiba. Compreendo que a atmosfera de clássico excita a audiência e atrai cliques e likes, e muita gente acredita que esta é a tábua de salvação do jornalismo. Porém, essa postura só serve para acirrar os ânimos e a polarização.

No momento em que apresenta Sérgio Moro e Lula como oponentes, a imprensa fornece munição aos lunáticos que consideram o primeiro um messias e o segundo um mártir. Não contribui em nada para que o público forme uma opinião sensata e pior: atrapalha a própria investigação, reforçando os argumentos de quem questiona a atuação do juiz e da própria Operação Lava Jato. Porque, como li na rede social, se Sérgio Moro é o adversário de Lula, quem é o juiz da disputa? A partir do momento em que a imprensa mostra a audiência como uma luta, quem vai a nocaute é o jornalismo.

Luigi Poniwass é jornalista