RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A professora Joana D’Arc Félix de Sousa admitiu que nunca fez pesquisa na Universidade Harvard e classificou a inclusão dessa informação em seu currículo Lattes e em diversas entrevistas como “uma falha”, mas negou que tenha agido de má-fé.


“A gente se empolga e acaba falando demais. É uma falha, peço desculpas, é uma falha”, afirmou por telefone à Folha de S.Paulo.


O caso foi revelado nesta terça-feira (14) pelo jornal O Estado de S. Paulo, segundo o qual ela apresentou um diploma falso para tentar comprovar vínculo com a universidade americana.


Questionada, Sousa afirmou que papel foi produzido para uma peça de teatro que faz com alunos da escola estadual de Franca onde leciona, e enviado ao repórter por engano.


“O pessoal [que fez o documento falso] pegou isso da internet […] de jeito nenhum eu tentei falsificar o diploma”, afirma.


A professora diz que chegou a receber um convite para ser aluna de pós-doutorado em Harvard em 1994, quando concluiu seu doutorado na Unicamp, mas não teria aceitado porque sua irmã e seu pai morreram naquela época e, depois, porque sua mãe enfrentou problemas de saúde. 


Por isso, ela teria desenvolvido o projeto no Brasil sob orientação à distância de um professor de Harvard, William Klemperer, morto em 2017.


“Eu considerei [como pós-doutorado] a orientação que recebi do professor William Klemperer”, afirmou. “Discutia o projeto, fui algumas vezes em seu laboratório, mas nunca fui efetivada como aluna porque não podia me ausentar por muito tempo, devido aos problemas de saúde de minha mãe”.


Ela afirma que tanto o convite para estudar em Harvard como a maior parte da orientação foram feitos por telefone e que não guardou nenhum registro.


À reportagem, Harvard informou que não encontrou evidências de que Sousa tenha recebido um diploma na instituição, mas não respondeu se a professora de fato recebeu uma oferta para ser aluna da universidade ou se recebeu algum tipo de orientação de Klemperer.


O pós-doutorado é geralmente uma atividade de estágio ou pesquisa realizada dentro de uma universidade para quem já é doutor, mas não é um título para o qual se atribui diploma. A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) confirma que Félix  fez graduação, mestrado e doutorado na instituição conforme as datas que constam em seu currículo Lattes, entre 1983 e 1994.


A Folha de S.Paulo, que publicou reportagem sobre a pesquisadora em 2018, está revisando as informações de seu currículo e das reportagens, inclusive sua idade,  declarado de forma variada a diferentes entrevistadores (48 à Folha em 2018, 55 na conta do Estado, 39 em uma entrevista e em redes sociais), As divergências suscitaram as dúvidas do repórter do Estado e motivaram sua investigação.  


Sousa diz temer que o episódio afete o trabalho que realiza como professora de uma escola pública, no interior de São Paulo.


“Eu ajudei a tirar muita gente da prostituição, das drogas, esse trabalho não pode ser jogado na lata do lixo”, diz.


Um filme sobre sua vida está previsto para ser produzido pela Globo Filmes. Sousa diz que foi procurada pelo diretor Alê Braga, escalado para dirigir o longa, depois que a reportagem do Estado foi publicada, mas não tratou sobre o futuro do projeto. “Ele ligou para dar uma força”, diz.


Procurada pela reportagem, a Globo Filmes não se manifestou até a publicação desta reportagem.


Além de alterar seu currículo, a pesquisadora aparentemente apagou seu perfil em rede social.