THAIS BILENKY

CAXIAS DO SUL, RS (FOLHAPRESS) – O candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB) frustrou produtores rurais e empresários ao responder sobre o combate à violência nesta terça-feira (28).

Mesmo entre uma plateia amigável em palestra na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (RS), a meta de redução do índice de homicídios do tucano causou burburinho.

Citando critério da OMS (Organização Mundial de Saúde), segundo o qual mais de 10 assassinatos por 100 mil habitantes é epidemiologia, ele calculou o limite aceitável para a cidade.

"Caxias arredondando tem 500 mil habitantes [são 435 mil, segundo o IBGE]. Não pode ter mais de 50 homicídios por ano. Se passar disso…", afirmou Alckmin do palco.

Os empresários e produtores rurais se agitaram nas cadeiras.

Segundo o último Atlas da Violência, Caxias teve 35,5 assassinatos por 100 mil habitantes -o que corresponde a quase 155 homicídios no ano.

"No Brasil, foram assassinadas 63 mil pessoas", observou o tucano, que então mudou o tom.

"Mas eu quero trazer para vocês uma mensagem de esperança e confiança. O copo é meio vazio, está cheio de problemas, mas também está meio cheio", afirmou.

Para Daniel Bampi, 42, presidente da Câmara de Indústria e Comércio de Farroupilha, também na Serra Gaúcha, a exposição de Alckmin sobre o tema foi tímida.

"Se não mudar a lei, tu sabes que não tem cura", afirmou defendendo o porte de arma pela população civil. "É preciso, porque o bandido está armado."

Ele disse que a mudança poderia provocar aumento de crimes banais, "só que, com o índice de criminalidade que a gente, tem isso vai ser pouco representativo".

Bampi disse concordar com Jair Bolsonaro (PSL) na área de segurança. "É um discurso bastante enfático, porém realista. É difícil falar com alguém cujo principal medo não seja a segurança", resumiu.

Com discurso linha-dura, o capitão reformado ganhou amplo apoio no Sul. Segundo o Datafolha, tem 28% da intenção de voto; Alckmin, 5%.

Em sua palestra, o ex-governador paulista mencionou a redução da raxa de homicídio sob sua gestão e defendeu a propriedade privada.

"São Paulo tinha 13 mil homicídios por ano em 2001. No ano passado, foram 3.503 homicídios", ressaltou.

Contra o "problemão da insegurança jurídica", o tucano disse que, "em SP, invadiu, desinvadiu. É automático. Não há hipótese de decisão judicial não ser cumprida ou nós não queremos viver em democracia".

Alckmin reeditou frase em geral atribuída a Pedro Malan, associando-a a outro ex-ministro. "Delfim Netto diz que o Brasil é o único lugar do mundo onde o passado é imprevisível", disse.

Listando medidas para a segurança no campo e nas cidades, o candidato criticou o governo Michel Temer (MDB).

"O país tem 17 mil quilômetros de fronteira seca. Tráfico de droga, tráfico de arma, contrabando, descaminho, as fronteiras estão abertas. Só com tecnologia [controla]", declarou.

Aproximou o discurso à audiência.

"Nós sabemos por onde anda o cigarro contrabandeado. Por que não age? Todo mundo sabe que é sobre o rio Paraná, que vem do Paraguai, que produz oito vezes mais do que consome e não exporta. Onde está o governo, que não toma providências?"

Prometeu criar uma guarda nacional, "e o Rio Grande vai ser muito beneficiado porque é um estado de fronteira".

Para Luiz Raimundo Tomazzoni, diretor do Grupo GPS, de segurança privada, Alckmin "ainda não atingiu os objetivos, o povo brasileiro espera muito mais".

"Precisa criar um movimento que ataque a criminalidade, prendendo as pessoas e os presídios, que façam seu papel de recuperá-las, não adianta serem faculdades do crime", defendeu.

Tomazzoni, porém, apoiou o tucano. "É um momento de dificuldade, logo ali na frente ele consegue fazer alguma coisa, sim", afirmou.

Para o empresário, a retórica bolsonarista não surtirá efeito prático.

"Não concordo com Bolsonaro. O que diz é o que as pessoas gostariam de ouvir, mas no fundo não tem o resultado que o povo espera."