
Eles trabalham e contribuem, e muito, para a renda familiar. Esse é o perfil dos idosos brasileiros, segundo estudo divulgado no ano passado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo como levantamento, 75% dos 37,7 milhões de brasileiros com 60 anos ou mais contribuem com pelo menos metade da renda familiar. Desses, 18,5% ainda trabalham.
A paranaense Devanilde da Silva Piza faz parte desses números. Aos 64 anos, ela continua trabalhando, mesmo sendo aposentada há nove anos. Atualmente ocupa o posto de encarregada de perecíveis na Rede Condor, onde é funcionária desde 1986, na loja Pinheirinho, em Curitiba. Para a encarregada, que nem pensa em uma aposentadoria definitiva tão cedo, a rotina faz bem.
“É de extrema importância continuar ativa no mercado de trabalho, pois a vida fica mais agitada e parar pode acarretar doenças. É muito bom ter uma rotina, levantar cedo, fazer exercícios, ajuda no organismo. A rotina do dia a dia faz muito bem, até para a mente permanecer ativa”, disse Devanilde ao Bem Paraná. Ela também comemora as conquistas ao longo de décadas de trabalho.
“Dentro da Rede Condor eu tive muitas oportunidades de aprendizado e ensinei muitos colaboradores que passaram por aqui. Tenho orgulho em dizer que graças ao meu trabalho, nesses 36 anos de empresa, eu fui promovida diversas vezes, comprei meu imóvel e criei muito bem todos os meus filhos”, relatou.
A reportagem procurou saber se há muitas “Devanildes” na empresa. Para a gestora de RH do Condor, Charmoniks Maria da Graça Heuer, contratar profissionais com 60 anos ou mais é algo comum no grupo. “Considerar a contratação de um profissional maduro é valorizar uma extensa bagagem pessoal e profissional e absorver uma mão-de-obra bastante qualificada. E os ganhos para a empresa não são apenas no contexto profissional, pois a experiência de vida faz com que os profissionais da terceira idade, mais prudentes e responsáveis, saibam lidar com situações de tensão, sem se abalar por qualquer motivo. As relações interpessoais também tendem a ser mais fáceis e afetivas, amenizando as situações mais controversas da rotina diária”, explicou a gestora.
Mesmo sem um programa específico para contratar idosos, a rede supermercadista desenvolveu um projeto voltado aos funcionários desse grupo. “Por meio da Universidade Corporativa Condor, em parceria com a Escola da Diversidade, a empresa desenvolve o Projeto 60+, que tem como principal objetivo proporcionar melhor qualidade de vida aos colaboradores, realizando um acompanhamento efetivo deles, buscando sempre um ambiente profissional cada vez mais saudável”, detalhou Charmoniks Heuer.
A profissional de recursos humanos também ressaltou o crescimento das contratações, após o período mais severo da pandemia de Covid-19, com a população vacinada. “De forma geral este avanço na imunização no Paraná fez com que as contratações aos poucos retornem à sua normalidade. Na faixa etária 60+ também vêm crescendo diariamente, pois com a vacinação avançada as pessoas estão mais propensas a retornarem ao mercado de trabalho”, finalizou.
Eles também se ‘jogam’ na informalidade, como Dona Evanir, que abriu lanchonete de salgados
Mas não é somente no mercado formal de trabalho que os idosos movimentam a economia, quem passa pela rua Brigadeiro Arthur Carlos Peralta, no Boa Vista, percebeu uma mudança há poucos meses, ao ver um novo ponto comercial vendendo salgados fresquinhos, sempre fritos na hora.
No contêiner instalado em frente a residências, tem uma senhora prestativa e sempre sorridente atendendo aos clientes que chegam. Evanir de Abreu, 67 anos, sempre teve uma vida ativa, cuidando da casa, dos três filhos e do marido.
Os filhos casaram, vieram os seis netos e o marido começou a trabalhar com uma das filhas do casal na produção de salgados para festas. Veio a pandemia, com ela pai e filha começaram a produzir tudo em casa e faziam a entrega das encomendas em domicílio.
Dona Evanir, que nunca parou, se viu obrigada a ficar em isolamento, sem poder sequer ir à igreja, para não arriscar ser contaminada pelo novo coronavírus. “Ficar muito tempo em casa me deixou sozinha e pra baixo.
Depois veio a ideia de trabalhar com a venda dos salgados aqui, me senti ativa e isso levantou muito minha autoestima.
Aqui as pessoas vêm, conversam, estou sempre fazendo alguma coisa, vendo conhecidos e fazendo novas amizades. Assim ajudo a minha filha e ela me ajuda, pois teria que contratar alguém de fora, comigo aqui ela não precisa. Para a idade da gente é o que a gente precisa, estar ativo”, contou, entre um atendimento e outro.
Um dos clientes chegou ao final da conversa com a Dona Evanir. O aposentado Oseias Falavinha, 79 anos, garantiu o lanche de fim de tarde e contou que, agora, só trabalha por lazer “Fui sorveteiro por 35 anos. Agora eu faço de tudo um pouco, ajudo meus filhos com construções e estou sempre inventando algo para fazer”, relatou bem humorado.
O comerciante oficialmente aposentado também contou o segredo para parecer ser bem mais jovem do que diz o documento “Não bebo, não fumo, como bem e durmo bem, mas, principalmente, não perco tempo”.
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