
Nos dois últimos meses, pelo menos quatro casos de abuso de autoridade, complexo de superioridade e humilhação ganharam o noticiário. Em comum, os quatro casos foram filmados – e por isso causaram indignação nas redes sociais. Mesmo porque as vítimas das agressões verbais estavam apenas fazendo o seu trabalho.
O último ocorreu no dia 31 de julho, mas veio à tona na última sexta-feira (7), depois que o vídeo viralizou. Um motoboy foi vítima de ofensas racistas em um condomínio de alto padrão na cidade de Valinhos (São Paulo). O agressor, um homem branco, humilhou o entregador por causa de um suposto atraso na entrega.
O primeiro desses casos foi registrado no começo de junho. A Polícia Militar foi averiguar uma denúncia de violência doméstica no Condomínio Alphaville 5, bairro nobre de Santana de Parnaíba (Grande São Paulo). Ao ver os PMs na porta de casa, o empresário – supostamente o alvo da investigação – xingou, ofendeu e ameaçou os policiais.
Em julho, um casal de engenheiros tentou intimidar agentes da Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro que fiscalizavam um bar lotado na cidade, desrespeitando as regras de isolamento e distanciamento social para evitar a propagação do novo coronavírus. O caso ganhou repercussão porque passou no ‘Fantástico’, programa dominical da Globo, em 5 de julho.
No dia 18 de julho, o mais famoso caso: o desembargador Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira, do Tribunal de Justiça de São Paulo, chamou de analfabeto um guarda municipal que lhe pediu que colocasse a máscara exigida em locais públicos durante a pandemia do novo coronavírus.
Outro ponto em comum: os quatro agressores vieram às redes sociais pedir desculpas e dizer que não costumam ter esse tipo de comportamento, esperando que isso amenizasse ou anulasse as ações.
Até agora, em três dos quatro casos houve repercussões legais ou administrativas. O empresário Ivan Storel foi deunciado pela Promotoria de Justiça de Santana do Parnaíba por desacato a funcionário público e oposição à execução de ato legal. A empresa Taesa demitiu a engenheira carioca no dia seguinte. E o desembargador paulista viu a Procuradoria de Justiça abre inquérito contra ele. Além disso, conselheiros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) avaliam reservadamente a hipótese de afastar Siqueira de suas atividades.
O único que até agora não teve desdobramentos foi o do entregador. Que, curiosamente, foi o que registrou o crime mais grave: injúria racial. Por outro lado, o fato mobilizou as redes sociais. Matheus ganhou uma nova moto, presente do comediante Douglas Nascimento, o Ceará, do SBT. Além disso, uma vaquinha virtual foi feita pelo grupo Razões para Acreditar para ajudar o motoboy. Da meta prevista de R$ 150 mil, a arrecadação já passou de R$ 115 mil. “Realmente, saber que as pessoas dão valor aos motoboys foi muito bom.”, disse Matheus, neste domingo (9).