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Uma filhote de lontra-neotropical de apenas dois meses de vida ganhou um novo lar após ser resgatada e tratada pela equipe do Centro de Reabilitação de Fauna Marinha (CRD) coordenado pelo Laboratório de Ecologia e Conservação, da Universidade Federal do Paraná (LEC/CEM/UFPR). Resgatada após ter sido mantida fora do seu habitat natural, está agora no Refúgio Biológico da ITAIPU, em parceria firmada pela universidade e pelo órgão, com licença ambiental do Instituto de Águas e Terras (IAT). O filhote pertence a espécie Lontra longicaudis, classificada como “quase ameaçada de extinção” pelo Institituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.

O animal foi encontrado em Guaratuba, em maio, após ser retirado das margens de um canal de água doce por pessoas que acreditavam que a lontra estava sozinha e era muito pequena. A equipe de resgate retornou ao local para verificar se haviam outros indivíduos na região e alguma possibilidade de realocação do filhote, mas a ausência de informações mais precisas fez com que optassem por encaminhá-lo ao centro de reabilitação para estabilização e avaliação de processos futuros.

“Tivemos um feliz caso de sucesso com esse animal. É bem raro estabilizar um filhote desta espécie. A gente não só conseguiu mantê-la viva, como ela cresceu 23 centímetros no período de tratamento no CRD”, explica a bióloga e coordenadora do LEC, Camila Domit. O tratamento do animal envolveu uma série de ações: por se tratar de um filhote resgatado com aproximadamente 50 dias de vida, indefeso e sem a presença da mãe, não haveria condições de sobreviver sozinho. “Nos primeiros dias, foi mantido sob cuidados intensivos que incluíram conforto térmico e sonoro, suporte nutricional, enriquecimento ambiental, vermifugação, e um intenso manejo de acolhimento”, relata o post do LEC no Instagram.

Os dois meses de tratamento permitiram que a bebê lontra começasse, aos poucos, a se alimentar sozinha, a nadar e explorar o ambiente. Diariamente, passou por exames clínicos de rotina e pesagem em jejum para acompanhamento do ganho de massa corpórea. O filhote ficou alojado em sala de estabilização, com temperatura controlada de 28°C no período noturno, tomando banhos de sol e praticando natação em água com temperatura de 27°C durante o dia. Em dias nublados, a lontrinha foi mantida em sala com temperatura regulada e lâmpadas ultravioleta A e B para auxiliar o processo de mineralização óssea.

Nova casa

A ausência da mãe faz com que o filhote não aprenda os comportamentos básicos para sobrevivência na natureza, como caçar e evitar predadores e outros perigos, por isso a parceria com o Refúgio Biológico Bela Vista, localizado na Usina Hidrelétrica de Itaipu. O refúgio, que completou 36 anos no sábado (27), recebeu a bebê como um presente.

Com cerca de 1200 hectares de áreas verdes, o local abriga um hospital veterinário especializado em animais silvestres, além de um criadouro científico com foco em espécies ameaçadas de extinção. “O ambiente que preparamos para a lontrinha é de qualidade, e possui um amplo espaço desenhado para as necessidades da espécie e é enriquecido com elementos naturais de seu habitat”, explicou o superintendente de Gestão Ambiental da Itaipu, Ariel Scheffer.

O plano, agora, é iniciar um projeto de reprodução em cativeiro para futura reintrodução de indivíduos na natureza. “O fato deste exemplar da espécie não ter condições de se reintegrar ao seu ambiente natural , abre uma oportunidade para uma ação de conservação da espécie, por meio da reprodução em ambiente artificial”, explica. “Somos muito gratos à UFPR por este presente”, disse.

O superintendente também reforça a importância de se promover a educação ambiental a partir do episódio, aproveitando a história para mostrar que não se pode capturar animais em seu habitat natural, nem interferir ou alterar estes locais. “Muitas vezes, quando se captura um animal como este, e nesta idade, ainda em amamentação, a única forma de garantir sua sobrevivência é mantê-lo em cativeiro. Por sorte, o LEC do CEM/UFPR cuidou da saúde desta lontrinha e sabia das boas condições do Refúgio Bela Vista da Itaipu Binacional para mantê-la e ainda aproveitá-la para um programa de conservação da espécie”, celebra.