CARACAS, VENEZUELA (FOLHAPRESS) – Os dois principais candidatos da oposição acusaram o governo de Nicolás Maduro de pressionar os eleitores a votar nele por meio da Carteira da Pátria, documento que dá acesso a benefícios e serviços públicos.

A principal reclamação do ex-chavista Henri Falcón, líder nas pesquisas de opinião mais confiáveis, e do pastor evangélico Javier Bertucci, terceiro colocado, se referia aos pontos vermelhos.

Instalados sob toldos vermelhos próximos aos centros de votação, os funcionários desses locais escaneavam as carteiras da pátria de eleitores.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) estabelece que os pontos vermelhos devem ser instalados a 200 metros ou mais dos centros de votação. A reportagem da Folha, no entanto, constatou que havia um ponto até dentro do Colégio Miguel Antero Caro, em Caracas, onde vota Maduro.

Segundo pesquisa de opinião realizada pela Ucab (Universidade Católica Andrés Bello), 54% acreditam que podem perder os benefícios sociais ou sofrer algum tipo de represália caso optem por um candidato da oposição.

No mesmo levantamento, realizado no mês passado, 34% acreditam que o governo poderia ter acesso ao voto por meio da Carteira da Pátria.

“Há uma situação generalizada com a instalação dos pontos vermelhos como mecanismo de pressão, como elemento de chantagem política e social a um setor da população de quem se pretende uma vez mais comprar a dignidade”, disse Falcón, em entrevista coletiva.

“Virou um vírus na Venezuela apresentar uma carteira para ser escaneada”, afirmou.

“Eles tinham de estar a pelo menos 200 metros dos centros de votação. E recebemos pelo menos 380 denúncias dizendo que estão quase ao lado dos centros de votação, em nível nacional”, disse Bertucci.

O candidato evangélico acusou o oficialismo de assediar os eleitores dentro dos centros de votação. “Quando chegam para votar, abordam para perguntar em quem vão votar. Se esse eleitor diz que vota em alguém diferente do [candidato do] governo, começam a oferecer dinheiro, comida.”

Questionado sobre irregularidades, Maduro não mencionou os pontos e disse só haver problemas pontuais.

“Há 34 mil mesas de votação, 14 mil centros eleitorais. Sempre há algum desentendimento, algum probleminha em alguma mesa, que se resolve. Foi assim hoje [domingo], como em todos os processos eleitorais”, afirmou o chavista.