Valquir Aureliano – Marilize e o noivo Lucas: data do casamento adiada por três vezes

Faltavam apenas três dias para a enfermeira Marilize Sonntag se casar. O vestido já havia sido entregue, assim como as lembrancinhas do casamento, com a personalização da data que escolheu: 21 de março de 2020, início da pandemia do coronavírus no Brasil. O fato levou à suspensão da cerimônia e da festa para 200 convidados.

“A decisão do cancelamento foi por conta do decreto e, acima de tudo, por decisão própria, porque eu atuo na área da saúde e grande parte dos convidados trabalham comigo”, conta a noiva. “Fiquei muito chateada e tive prejuízos financeiros, mas remarcamos para 22 de agosto de 2020.”

Com as taxas de transmissão da Covid-19 ainda em alta nesta data, o casamento precisou ser, mais uma vez, remarcado, agora para 8 de maio de 2021. Nesta data, a cidade de Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, onde a cerimônia seria realizada, permitia a realização de eventos com restrições, recorda a enfermeira.

Ainda assim, mesmo com todos os protocolos de segurança, ela ficou com receio de realizar a cerimônia.

“Não me senti à vontade em colocar meus familiares e amigos em uma situação de risco de contaminação pelo coronavírus.” O casal então remarcou, novamente, a data do casamento para 25 de março de 2023. “Bem distante, com a esperança de que, com a vacinação, a situação já esteja bem estabilizada e possamos realizar a festa conforme sonhamos, podendo abraçar os convidados, curtir a pista de dança e sem o uso da máscara, se Deus assim permitir”, espera Marilize.

Plano B

Como eles, Enrico Nogaroli Stringari também precisou adiar um grande evento em sua vida: o intercâmbio para estudar fora do Brasil. Cursando o segundo ano do Ensino Médio, ele estava com a viagem marcada para Londres, na Inglaterra, em 27 de janeiro de 2021. “Quatro dias antes, a passagem foi remarcada para fevereiro [por causa do fechamento das fronteiras inglesas]”, lamenta o jovem.

A nova data também precisou ser remarcada, pela piora da pandemia, e “já começamos a pensar num plano B, que era fazer o curso aqui em Curitiba, numa escola internacional, para praticar o inglês e tentar ir direto para a universidade”, afirma o estudante, de 15 anos.

A mudança de planos, porém, impactou na rotina de toda família. “Ele iria com o pai, ficar seis meses, e depois eu iria com a irmã dele, ficar mais seis meses. A gente programou tudo. Em dezembro, saímos do nosso apartamento e alugamos outro bem menor, pois ficaria eu e minha filha aqui, e os dois lá [em Londres]. Nos desfizemos de tudo. Alugamos um apartamento mobiliado [em Curitiba], para fazer a mala e ir. Todas as malas estavam prontas”, lembra a mãe de Enrico, Lorena Nogaroli. “Agora estamos todos amontoados no apartamento. Fora a ansiedade e a frustração”, diz.

No Estado, 85 mil cirurgias eletivas deixaram de ser feitas no período

A primeira crise insuportável que teve o vigilante Gerson Tavares, de 59 anos, foi em 2018. No hospital previram o que os exames confirmariam: pedras na vesícula. A cirurgia foi logo indicada. “Depois de meses fazendo exames, quando eles já estavam todos prontos, em março de 2020 entrou a pandemia e parou tudo”, lembra.

O tratamento, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) precisou se limitar à dieta rigorosa e remédios para as crises de dor, que se repetem. A cirurgia de Gerson é uma das 85 mil eletivas adiadas no Paraná em 2020, por causa da pandemia. O número é da Secretaria Estadual de Saúde, que voltou a liberar as cirurgias em julho de 2021, mas a realização depende da estrutura de cada instituição de saúde.

“Me ligaram este mês para saber se eu queria ainda fazer a cirurgia. Eu, mais que depressa, respondi que sim. Fui lá, reiniciei todo o processo de exames laboratoriais e agora volto para eletro, raio-x, para ainda esperar mais uns 90 dias.”

O vigilante reconhece o poder destruidor do coronavírus e a necessidade da suspensão das cirurgias eletivas, porém, diz que é preciso olhar para os pacientes com dor.

“Há pessoas em situações desesperadoras, que estão sofrendo muito. Eu ainda consigo dirigir, ir sozinho para o médico, mas tem gente que não, que depende da cirurgia para voltar a viver”, observa.

“Entendo que houve a avalanche da Covid, e vimos a situação, mas agora deveriam ir chamando as pessoas, mesmo que lentamente, pois a dor é algo inacreditável. A vida tem que seguir; há pessoas com outras comorbidades que, mesmo não sendo crônicas, atormentam a gente”, diz Gerson.