Franklin de Freitas – Curitiba vazia no lockdown

Mesmo com os hospitais públicos e privados da Grande Curitiba lotados a um passo do colapso, os municípios da região resistem em seguir a capital na bandeira vermelha, em vigor desde o último sábado. Em reunião da Associação dos Municípios da Região Metroplitana de Curitiba (Assomec), também no sábado, o prefeito Rafael Greca e o vice Eduardo Pimentel fizeram apelos para que as cidades também adotem o lockdown como única forma de garantir atendimento para não só os infectados pela Covid-19 como também para os doentes por outras patologias. Na ocasião, no entanto, somente os prefeitos de Pinhais, Campo Largo e Campo Magro aceitaram aderir às medidas. As outras cidades ficaram de responder nesta segunda (15), quando a Assomec se reúne novamente.
“É muito importante que os municípios da região, principalmente aqueles que fazem divisa com a capital, acompanhem Curitiba na decisão da bandeira vermelha. Sabemos que é uma decisão difícil e não é popular, mas neste momento é necessário para que as prefeituras se unam neste combate em favor da vida”, afirmou Pimentel, em entrevista ao Bem Paraná. De acordo com ele, a maioria dos prefeitos se mostrou solidária com a proposta: “Tivemos três que já decidiram seguir e outros prometem cumprir 80% das nossas medida. O importante é que todos se sensibilizem com a proposta para que gente possa diminuir a pressão nas UPAs e hospitais de Curitiba e região metropolitana”.
A importância da adesão das prefeituras da Grande Curitiba ao decreto de bandeira vermelha também foi citada em entrevista coletiva na manhã de sábado com a superintendente Executiva da Secretaria Municipal de Saúde, (SMS), Beatriz Battistella Nadas, a superintendente de Gestão da SMS, Flávia Quadros, e o presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná (Femipa), Flaviano Ventorim. “A adesão das prefeituras da Região Metropolitana é primordial para reduzirmos a pressão no sistema de saúde, porque os pacientes destas cidades também vêm para o sistema de saúde. É uma luta de todos neste momento em que o sistema está colapsando e pode faltar atendimento”, disse Beatriz.
A Prefeitura de Pinhais publicará hoje pela manhã, e com validade imediata após a sua publicação, um novo decreto de combate à Covid-19, o qual seguirá as novas recomendações da Prefeitura de Curitiba. De acordo com a secretária de Saúde de Pinhais, Adriane Jorge, o momento é crítico, por isso o município vai seguir as medidas adotadas pela capital paranaense. As cidades de Campo Largo e Campo Magro devem publicar o decreto ainda hoje.

Só restam oito vagas de UTI pelo SUS na região
Segundo levantamento da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), com dados de sábado, restavam apenas oito vagas em UTIs com leitos exclusivos para Covid-19 pelo SUS e 82 vagas em enfermarias. O que é totalmente insuficiente principalmente diante do novo perfil da nova cepa do coronavírus, que tem taxas muito mais altas de contaminação e os infectados adoecem muito mais rapidamente, em três ou quatros dias. De acordo com a Sesa, dos 13 complexos hospitalares do SUS, oito já estavam no sábado com 100% de ocupação nas UTIs e dez deles sem vagas na enfermaria. Para se ter uma ideia da velocidade de ocupação, as 240 vagas de leitos clínicos criadas com a transformação de UPAs em hospitais em Curitiba na última quarta-feira, estavam todas ocupadas.
A situação não é diferente na rede privada. De acordo com informações o presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná (Femipa), Flaviano Ventorim, lembrou que Curitiba está com mais de 15 mil casos ativos. “Se 10% deles complicarem, são 1500 pessoas que vão para o sistema de saúde, público e privado, e se seguir o padrão atual, 300 podem precisar de UTI, ou seja, não temos essas vagas. E não só por uma questão de dinheiro, porque não há equipamentos para comprar, oxigênio, anestésico, fora equipes de saúde. Para vocês terem uma ideia, há dois dias não tínhamos esse problema de anestésticos, mas a demanda aumentou tanto que já não temos garantias de entrega”, disse ele. Ventorim lembrou que nenhum hospital particular de Curitiba fechou, mas vários restringiram o atendimento, mas isso pode mudar: “Precisamos conter a curva de crescimento. É muito agressiva, temos que controlar. Não é uma questão de apoiar ou não apoiar o lockdown, é uma medida necessária. É hora de todos se unirem, indústria, comércio, população, para abaixar essa curva de crescimento”. Até ontem, três hospitais privados da capital há tinham interrompido o atendimento a novos pacientes no pronto-atendimento: Hospital Marcelino Champagnat, Hospital Nossa Senhora das Graças e Hospital São Vicente